DEUS SALVE OS
BABACAS!
(Angelo Romero
– Escritor)
Não existe faculdade para a formação de “BABACAS”, nem
mesmo os tais cursos especializados. E faz o maior sentido, porque, afinal de
contas, IDIOTA não é profissão. O idiota é um autodidata, é uma opção. Eu tenho
pavor do assassino, tenho temor do ladrão, tenho repulsa pelo corrupto, tenho
nojo do flanelinha, me apiedo do analfabeto, mas, pelo idiota sinto o maior
desprezo. Ele me irrita. Porém, o que seria de quem sabe se comunicar e usar o
precioso tempo da vida, sem os “idiotas”? O mundo se transforma, de século a
século, de ano a ano, de mês a mês, de semana a semana, e, ultimamente, de dia para
dia numa velocidade espantosa! Vejo minha mulher passando roupa em ferro
elétrico, leve quase como uma pluma e, ao fechar os olhos, vejo minha avozinha
passando pilhas de roupa num pesadíssimo ferro a carvão. Parece que foi ontem. Falei
para um amigo: -Se precisar de me enviar uma notícia urgente e importante,
passe-me um telegrama. -Telegrama? –perguntou ele. Telefone-me - respondi. -Uma
ligação telefônica? –perguntou o amigo outra vez. -Um e-mail, então. - Qual é,
cara? Se você deseja saber alguma notícia, acesse o meu facebook – completou ele.
É verdade. O telegrama praticamente já não existe. O telefonema, em telefone
fixo, custa caro. Através do celular, a ligação nem sempre funciona. Ou está
descarregado, ou desligado, ou esquecido em algum lugar, ou fora da área de
cobertura. E, depois da criação do Face, até o e-mail perdeu a sua força.
Cheguei a conclusão de que quem não tem computador está desligado do mundo. E
aí me lembro de minha mãe que custou aprender a ligar a uma nova televisão que
lhe dei, através do controle remoto. A criança corre porque suas pernas e
cérebro acompanham a velocidade do mundo. E o idoso, com sua musculatura e
memória em frangalhos? Dê de presente a um idoso um aparelho eletrônico de
última geração. Última? Foi ontem. Minha mãe passou da vitrola acionada através
de corda, para a vitrola automática e parou ali. Imagino ela ouvindo suas
músicas favoritas (centenas) através de um pen-drive. Mamãe jamais acreditaria
nessa possibilidade. Uma amiga me perguntou há uns meses atrás: -Você tem Blog?
–O que vem a ser isso? -respondi com uma pergunta. A amiga não se conformou. -Como
você pode ser escritor e não ter um Blog? -Não sei criar nem tenho como pagar
que o crie para mim. Resumindo: meu Blog está lindo e foi a amiga que,
gratuitamente o criou e semanalmente o alimenta, já que nem isso ainda aprendi.
Convenceu-me ela, tempos depois, de criar um “Face”. Disse-me, na ocasião: -“Se
deseja se comunicar com o mundo e divulgar sua obra (livros e etc.) ainda não
inventaram nada igual”. Meu Face foi criado por ela e eu o aciono todas as
noites para saber das novidades. Meu Deus! Que prazer doloroso! Apesar de
encontrar, vez por outra, texto ou imagem interessante e original, entendo que
noventa por cento da matéria publicada no Face é da maior babaquice! Acredito
que boa parte das pessoas que usam o Face, são desocupadas, vazias,
extremamente vaidosas ou profundamente solitárias. O Face é muito mais que um brinquedo e um
passatempo.. É um poderoso veiculo para encontrar pessoas e divulgar obras.
Mas, o mundo precisa de diferenças para que possa separar o joio do trigo. O
feio existe para que possamos apreciar o belo.
Um texto mal escrito existe, para que se possa apreciar uma notável obra
literária.. Por tudo isso é que entendo
a utilidade e a necessidade da existência do idiota assumido. Ontem eu acordei
sorrindo e comecei a cantarolar. Ah, como é boa a vida! – exclamei. E, como de
hábito, passei a ler os jornais após meu desjejum. E foi nesse momento, diante
das notícias, que passei a me questionar para entender o porquê amanhecera tão
feliz, ou melhor, tão BABACA. Sim, para uma.pessoa que crê ser equilibrada, não
tem cabimento mostrar-se feliz diante do noticiário dos jornais. Não pode
sorrir e cantar, diante da proximidade da Copa do Mundo da Corrupção, diante da
imagem de um Brasil destroçado pelos nossos políticos e governantes e,
principalmente, diante dos candidatos às próximas eleições, que agride nossa
inteligência, extermina nossa fé, nossa esperança e nos proíbe de sonhar com um
futuro melhor para o nosso país. Pensei mediatamente em punir minha alegria e
meu cantar inconsequente. E para me punir, nada melhor do que recorrer a alguns
textos e imagens do Facebook.
À SOMBRA DO
MARACA
(Angelo Romero – escritor)
Completo
minha rotina matinal ao pegar o jornal na soleira da porta de meu apartamento.
Sento-me na espreguiçadeira ao lado da janela ávido pelas notícias. Mas minha
atenção é despertada por estilhaços de sol sobre a folha dos esportes.
Assusto-me. Deixo o jornal cair ao chão e desvio os olhos para a janela. Toda
luz que há lá fora parece espremer-se para penetrar através do pequeno e
irregular orifício no vidro. Ofusca-me. Um facho fino, como o de um refletor de
teatro, risca em linha reta o espaço da sala, por sobre minha cabeça. Esqueço o
jornal estendido no chão, inerte, abatido. Troquei as manchetes do presente por
um mergulho nas páginas do passado. Mil e uma gavetas da memória abriram-se a um só tempo com imagens
de um Rio de Janeiro bem mais tranquilo. Em instantes, remexi naqueles arquivos
e selecionei uma imagem de um outro julho, de minha velha “seção de esportes”.
Surgiu ainda nítida, tão colorida como memória de criança: meu pai, na mesa de
café daquele domingo, brincava com a caneca e com os talheres com mãos de
menino travesso. Estava excitado, tenso, preocupado e alegre. Tudo a um só
tempo -“Cuidado para não entornar café na tolha, Abelardo”- disse mamãe. Ele
respondeu com um sorriso treloso. Afinal, pela primeira vez na história, o
Brasil era pleno favorito para tornar-se campeão mundial de futebol.-“Barbosa,
Augusto e Juvenal. Bauer, Danilo e Bigode. Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e
Chico.”- papai repetia a escalação como que nomeando os campeões mundiais.
-“Friaça, papai?”- perguntei. – “É, meu filho. O Maneca está com indisposição
intestinal e foi barrado”. Papai era jornalista e, apesar de não trabalhar na
editoria de esportes, estava a par das últimas notícias. Em 1950, a substituição de
jogadores durante as partidas oficiais, era proibido pela regra e Flávio Costa,
nosso técnico, não queria correr riscos com atletas que não estivessem em
plenas condições de jogo. Com a credencial de jornalista de papai,
assistiríamos ao jogo na Tribuna de Imprensa do Maracanã. E assim, entre sol
presente e encoberto, a manhã se foi. Chegou a hora do almoço, mas não veio com
ela o apetite. Em vez de mastigar, beliscamos a comida. Mamãe ainda falou:
“Vocês não comeram nada. Vou preparar uns sanduíches de carne assada para
levarem”. –“Não precisa, Ciatinha, podemos lanchar nos bares do estádio” –
argumentou papai. – “Pra que gastar dinheiro com porcarias, se podem se
alimentar melhor e fazer economia?”. Ali estava a razão personificada, bem
distante da emoção que já nos dominava. E a razão venceu. Levamos os sanduíches
embrulhados em papel pardo, disfarçados dentro de uma sacola de couro. Papai só
não conseguiu disfarçar seu constrangimento. Fomos de bonde. Dois bondes, pois
tivemos que fazer baldeação. Oficialmente, o estádio do Maracanã fora
construído para comportar 200 mil pessoas. “Ora, 200 mil pessoas deveria ser
para jogo comum, nunca para uma final de campeonato mundial” – diziam alguns. A
frieza dos dados oficiais não considerava aos milhares de almas e corações que,
irmanados e espremidos, ultrapassaram a lotação e jamais foram contabilizados
com exatidão. Desta vez emoção superou a razão e o bom senso. Mas se Deus não é
brasileiro, como dizem, por certo é um turista por demais apaixonado pelo Rio,
e o estádio suportou mais de 400 mil pés pulando sobre seu dorso sem tremer,
envergar ou ruir. Naquela tarde a
engenharia nacional, com alguma ajuda Divina, foi a primeira a tornar-se campeã
mundial. A partir daquele dia,
o estádio Municipal do Maracanã, ou Mário Filho, como queiram, passou a ser o
maior templo oficial dos penetras. Principalmente em grandes clássicos, nunca e
jamais saberemos o número exato de espectadores. Se contarmos os ingressos
falsos e os que, recolhidos, voltam às bilheterias para serem revendidos, os
“parentes e amigos” de porteiros, bilheteiros e fiscais, as “autoridades
fajutas”, os militares, crianças, idosos e o assustador contingente de
ambulantes não oficializados, ficaríamos abismados com a diferença entre o
público contabilizado e o não contabilizado. Meu coração menino pode sentir a
primeira grande emoção daquela tarde,
na voz do locutor do estádio, ao dar a escalação da seleção brasileira. Em sua
voz, bem empostada, ritmada e melódica, denotava-se o sabor de um
samba-exaltação. Não, não estava ali na boca do gramado apenas os onze
jogadores que iriam participar daquela final. Estavam os futuros campeões do
mundo! Emoção ainda maior foi a de ouvir os mais de 200 mil presentes a entoar
o hino nacional, magistralmente executado pela Banda dos Fuzileiros Navais. Foi
de arrepiar! Afinal, nossos jogadores perfilados no gramado representavam a
“pátria de chuteiras”. O jogo começou nervoso, como era de se esperar e mais
nervoso acabou o primeiro tempo, com o placar em branco, como branca era a cor
do nosso uniforme. Branca é a cor da paz, e paz nunca faltou. Nem nos momentos
de euforia, nem nos de expetativa. Tampouco nos instantes de desespero mudo de
uma massa espremida que – hoje sabemos – estariam por vir. Não há anestésico
mais poderoso do que uma grande catástrofe. Mas, com o empate, ainda seríamos
campeões. Papai pareceu prever a tragédia. Acendia um cigarro na guimba do
outro e mastigava nervosamente, o fósforo queimado. Veio o segundo tempo e, com
ele, o gol de Friaça. Logo dele, do reserva. Parecia ser um prenúncio de sorte,
e com sorte não se deve brincar. Nós brincamos. Se há uma coisa que o destino
vive a se indispor, essa coisa se chama lógica em futebol. A lógica dos
números frios. O jogador de futebol é feito de nervos, um feixe de nervos capaz
de levado pela emoção, superar a razão.
Com
o primeiro gol do Uruguai, ouviu-se exclamação em uníssimo; depois do segundo,
nada mais se ouviu. As lágrimas despencavam em silêncio e os soluços não tinham
som. A multidão desceu as rampas do estádio pisando nas nuvens negras do
destino. Ao invés de cimento, flocos de nuvens, pois não se ouvia o solar dos
sapatos sobre o concreto frio. Os bondes passavam lotados e em respeitoso
silêncio, como se dirigissem ao mais dramático dos funerais. Não sentimos a
distância entre o Maracanã e a nossa casa. Voltamos a pé, com almas
entorpecidas e bocas emudecidas. O embrulho com os sanduíches foi largado nas
cadeiras especiais do estádio. Papai deixou para desabar o choro ao chegar em casa. Aquela foi a
primeira vez que o vi chorar, não pude esquecer. A imagem me foi mais
emocionante que a perda do título de campeão mundial. Outras Copas estariam por
vir; choro igual, eu jamais veria. A imagem desapareceu de meus olhos como a
tela do computador em que escrevo irá desaparecer irá se apagar assim que eu o
desligar. O Maracanã resistiu à euforia da multidão após o gol de Friaça, mas
pela primeira vez, eu temi por sua estrutura diante do peso do silêncio e da
imobilização da massa. E cruzou os anos, como eu, como a Cidade. Presenciou a
despedida de tantos de seus craques sem nunca, ele mesmo, se despedir. Volto à
minha rotina, ao meu jornal de hoje. Já falaram em demolir o velho estádio.
Está ultrapassado, encolhido, inútil. Agora reinauguram pela terceira vez,
depois de demolirem e deixarem só a casca. Uns dizem que, modificado ou não, é
obsoleto. Mas, mesmo obsoleto, tal qual uma Torre de Pizza tropical, sua sombra
inclina-se sobre o espírito do Rio, sobre a História do Brasil, com o peso de
400 mil pés, com a força daquela derrota e com a esperança renovada em cada
vitória que presenciou. Nenhuma assinatura de político mudará isto. O Maracanã
estará erguido para sempre na minha memória, plantado naquela tarde de 1950 e
regado pelas lágrimas de meu saudoso pai.
UM BEIJO GAY
Angelo Romero (escritor)
Deus
colocou Adão no paraíso. Preocupado com seu isolamento e possível solidão,
criou, de uma das costelas de seu primeiro personagem, Eva, para ser sua
companheira. Foi à primeira história que conheci nas aulas de catecismo. Em
minha adolescência logo entendi que a mulher, em suas diversas faces: mãe,
amante, amiga e companheira, havia sido a maior criação divina. Custei a
entender foi o simbolismo sobre a maçã e a serpente. Quanto ao réptil, traiçoeira
por instinto, tudo bem, mas logo a maçã, uma das frutas mais saudáveis,
escolhida para explicar o pecado original! Porque não uma jaca? Porém, existem
alguns Adãos que, em termos de sexo, preferem outros. Errado? Quem sou eu para
afirmar o que é certo e o que é errado diante da sociedade, principalmente de
nossa atual sociedade, já que o Criador nos deu o livre arbítrio? O livre
arbítrio como todos sabem nos dá o direito da opção, certo? Portanto, entendo
que devo não só respeitar, como aceitar a opção de cada um. Sou terminantemente
contra todo tipo de perseguição, violência, isolamento e até mesmo chacota. O
homem deve ser respeitado por seus valores intelectuais e morais, já que
inexiste imoralidade em opção sexual. Aplaudo até a conquista dos que puderam
sair de dentro do armário para caminhar e respirar livremente, ser aceito e
respeitado pela sociedade. Se eu for aqui enumerar os homossexuais que se
tornaram famosos, nos campos da ciência, arte e literatura, através da história
mundial, precisaria de espaço para outra crônica. Deus me deu o privilégio de
viver adiantado ao tempo, pois já na minha adolescência convivi com gays de
ambos os sexos e os respeitei. Creio que até aqui, o amigo leitor entendeu que
não estou condenando a opção sexual de cada um e sim a respeitando. Alguma
dúvida?
Mas, existem dois lados da moeda. Ao mesmo tempo em
que defendo que a homossexualidade deva ser livre, entendo que não deverá ser
obrigatória. Pelo andar da carruagem, começo a me preocupar. Do armário, para a
exposição na vitrine foi um passo muito largo. A supervalorização do gay,
através da mídia impressa e televisada, me assusta. Parece que o fato de ser
gay, lhe dá um status, um título de nobreza. Afinal, somos todos iguais, apesar
das preferências distintas. Sempre defendi que o ato sexual, entre quatro
paredes, deva ser livre para duplas, casais e até trios, independentemente do
sexo. Porém existe, ou existia, uma coisa chamada de sociedade e não importa se
ela está decadente e precisando de remodelação em seus valores para evitar uma
nova “Sodoma e Gomorra”. Sempre soube
que a publicidade é a alma do negócio. A exposição em demasia, leva ao
incentivo. O adulto, que se pressupõe estar de cabeça feita, não se deixa levar
facilmente pela publicidade. Ele sabe
qual é o produto que lhe agrada e lhe faz bem. E o adolescente? Aquele que aprende a ser desonesto com os
nossos políticos e por perceber que a Justiça e a punição só existem para o
pobre e para o negro. Querem um exemplo? Filho de bicheiro é bicheiro, filho de
traficante é traficante, filho de político é político, embora exista exceções.
A fragilidade do caráter humano faz com que o cidadão, em formação, aceite mais
facilmente o mau exemplo do que o bom. E eu não estou dizendo que a opção sexual,
seja ela qual for, seja um bom ou mau exemplo. Veja como estamos caminhando. A
mulher, menos inteligente, quer ficar nua. Do maiô inteiro, foi para o biquíni,
do biquíni para o deselegante fio dental e agora luta para ter o direito de por
os seios à mostra. Logo não teremos mais praias exclusivas para nudistas.
Sabemos que a mídia é a formadora de opinião. O que você, de bom senso, me diz sobre certas cenas da novela das nove?
Do Big Brother e de alguns outros programas televisivos voltados para o crime e
a violência? Denuncia ou ensina e incentiva? Não existe a abominável censura e
a imprensa é livre. Tudo bem. Mas deveria existir a censura baseada no bom
senso em respeito às famílias e em atenção a esta nova geração em formação, em
que boa parte pratica o sexo livre, usa tóxico e, encapuzado, em atos de
vandalismo, destrói bens públicos. Culpo nossas leis, a Justiça e,
principalmente, a mídia. Todos serão responsáveis por produzir os homens que
cuidarão do futuro do Brasil
O AMOR E A CONTAGEM
REGRESSIVA
Angelo Romero (Academia
Petropolitana de Letras)
Próximo de chegar aos oitenta anos, percebo que os primeiros
setenta passaram de forma muito rápida. Abro o álbum de fotografias e constato
que todos os meus parentes e melhores amigos já faleceram. Digo os melhores
amigos, porque os melhores são sempre os que já se foram e isto, por um simples
motivo: não tenho mais como revê-los. Passo em revista todos os cômodos da casa
e concluam que as únicas coisas que consegui amealhar com algum valor foram as
experiências de vida. Que ironia! Que tempo e com que disposição física terei
eu para usar e me beneficiar com tantas experiências adquiridas ao longo dos
anos? Para que elas irão me servir? Aconselhar aos mais jovens? Talvez. Mas
será que alguém costuma seguir conselhos dados de forma gratuita? Não creio. Será
que eu vou ter tempo para não cometer os mesmos erros? E, por Deus, não pensem
que estou maldizendo a minha sorte. Longe disto. A maioria das pessoas, creio eu, não atingem
a idade que atingi. Não realizaram o que realizei: plantei uma árvore, gerei um
filho e escrevi livros. Mas, tudo isso, para mim, foi muito fácil. O difícil está
sendo regar a árvore diariamente, criar um filho e fazer com as pessoas leiam
meus livros. O destino é um fato, a
sorte, também. O que nunca existiu foi o tal de futuro. O que existe é o
momento. Quem me garante que vou terminar de escrever este texto?
Se você é escritor ou exerce uma função técnica que lhe
proporcionou receber o prêmio Nobel, parabéns! E se for um ator e recebeu um
Oscar, parabéns! Se for um cantor e acumulou discos de platina em sua estante,
parabéns! Se você é político e foi eleito por unanimidade, parabéns! Se, mesmo distante
das sete artes você conseguiu ser laureado com importantes títulos e troféus,
parabéns! Se você foi considerado herói e recebeu condecoração por atos de
bravura, parabéns! Se você é um homem de sorte e ganhou uma grande bolada na
loteria, parabéns! Enfim, o reconhecimento é importante, faz bem ao ego. Entretanto,
todo e qualquer laurel não passa de simples prêmio de consolação por você ter
existido e ter sido um nome e não apenas um número. Mas, lembre-se que em
qualquer dessas situações, a sorte esteve ao seu lado. Creia amigo leitor, o
número de heróis e sumidades artísticas, literárias, técnicas e desportivas,
mantidas no mais negro anonimato, é assustador!
Eu ainda não obtive nenhum desses láureos, mas, em compensação,
recebi da vida o que poucos receberam e que é o que mais preso: UM GRANDE AMOR!
E eu sou apaixonado pelo amor. Para mim, nada no mundo se compara ao breve
momento da conquista amorosa, selado pelo primeiro beijo. Este sim, é para mim o
maior prêmio da vida.
XANTI
Angelo Romero (Academia
Petropolitana de Letras)
Quem chega aos 77 anos sem que tenha bons
momentos para recordar, é porque contou tempo, mas não viveu. Felizmente, eu
tenho inúmeros momentos interessantes e não me importo que me chamem de
saudosista. Desejo e espero que o leitor
comece um novo ano com um breve sorriso. Para isso, vou me reportar a um
acontecimento verídico, ameno e jocoso ocorrido na década de 80.
Gosto de desafios e sempre que a vida me
oferece um, não o deixo escapar. Nasci no bairro do Sampaio, no Rio, e meus
primeiros 12 anos vivi por lá. Quis o destino me afastar fisicamente do bairro
por mais de 40 anos. Digo, fisicamente, porque das raízes podemos nos
distanciar, mas não existe distância que dela nos faça desligar. Dito isso,
vamos à história: aceitei o desafio para administrar o Sampaio Atlético Clube
que, naquele momento vivia em estado de insolvência total. Jesus Cristo por
certo não aceitaria tal desafio, mas na certeza de que me apoiaria, aceitei.
Seis dias na semana e uma carga de 12 horas por dia, isso quando não tinha
baile aos sábados, quando então varava madrugada a dentro. Dinheiro? Bem, no
início precisei injetar do meu para acertar as contas imediatas e adquirir
credibilidade. Em poucos meses retirei o que havia emprestado e passei a
retirar uma pequena quantia como custeio. Como o dinheiro era pouco e por não
existir restaurante do bairro, não almoçava. Fazia uma única refeição completa,
às 22h, quando regressava ao lar.
A figura de Neca foi sendo rascunhada pela
fome e pela solidão. Ele fora um dos fundadores do Clube, quando eu, criança,
no Sampaio aprendi a chutar minha primeira bola de futebol. Não podíamos dizer
que éramos amigos, por sermos de gerações diferentes. Entretanto, o respeito e
a admiração mútua fizeram nos ligar: eu admirava seu passado no Clube; ele, meu
presente.
Neca
descobriu que eu trabalhava em demasia sem me alimentar. Eu sabia ser ele uma
figura solitária e por demais conservadora. Continuava a trabalhar, apesar de
aposentado, em seu primeiro e único emprego e era um solteirão convicto. Morava
só, numa casa de avenida, bem próxima do Clube. Nunca havia comprado um
automóvel porque dirigir lhe dava pânico. Fome e solidão deram-se os braços.
Quase todas as noites, por volta das sete horas, Neca passava pelo Clube para
me convidar para jantar. União perfeita: eu, esfomeado e sem dinheiro; ele, sem
condução própria e sem companhia. Ele pagava a minha conta em bons restaurantes;
eu o distraia com as notícias do Sampaio e, como motorista, o deixava na porta
de casa.
Durante três noites consecutivas frequentamos
o mesmo restaurante, a mesma mesa e fomos atendidos pelo mesmo garçom. Este,
mostrando certa intimidade, atendia-nos com um largo sorriso. Tratava Neca pelo
nome e era extremamente solícito. Na primeira noite, Neca leu o cardápio, fez
igual pedido para nós, e tratou o garçom por Xanti. Ao sair, deixou uma boa
gorjeta. Nas duas noites seguintes, aconteceu tudo igual. Diga-se a bem da
verdade, que o restaurante era especializado em massas.
Nas três noites seguintes, fomos a um
outro restaurante, este, especializado em carnes. Um outro garçom,
naturalmente, nos atendeu com um largo sorriso e foi muito solicito. Ao fazer o
pedido para nós, Neca o tratou por XANTI. Estranhei. Seria coincidência? E
assim foi nas duas noites que se seguiram.
Neca passou duas noites sem aparecer.
Quando retornou ao Clube para me convidar para jantar, indicou-me um novo
endereço. Era um restaurante português, especializado em frutos do mar. A fama
de seus bolinhos de bacalhau se estendia por toda a cidade. E aconteceu
exatamente tudo igual: o mesmo sorriso largo do garçom nas três noites, a mesma
mesa e o mesmo pedido para nós. E ao se dirigir ao empregado que nos atendia,
tratou-o por Xanti. Não resisti. Esperei o garçom se afastar e, morto de
curiosidade perguntei: - Por que você chama todos os garçons por Xanti e eles
lhe atendem com um sorriso? Ao que Neca me respondeu: - Sempre fui muito
distraído, e agora, com a idade, minha memória já me trai. Sempre que sou bem
atendido por um garçom, pergunto seu nome e, ao voltar, percebo que já esqueci.
Resolvi simplificar meu problema de falta de memória: para mim, todos os bons
garçons se chamam Xanti. Eles já se acostumaram. Tratam-me bem,
independentemente do nome pelo qual são chamados porque, na verdade, o que
importa mesmo é uma boa gorjeta.
Durante meses fizemos o mesmo rodízio nos
três restaurantes.
Certa noite Neca me surpreendeu.
Indicou-me um restaurante distante, na Barra da Tijuca. Estranhei. Disse-me que
havia sido indicado a ele, por servir a melhor paeja do Rio. Partimos e eu,
devido à distância, com a fome aos galopes.
Entramos e ele escolheu a mesa. Consultou
o cardápio e fez sinal para um garçom. Este se aproximou solicito, mas sem o
largo sorriso. Percebemos sua considerável atenção, mas sem que houvesse a
menor intimidade. Ao se dirigir ao garçom, Neca tratou-o por Xanti. Este,
surpreso, abrindo-se em sorrisos, falou: - Sou bom fisionomista, como deve ser
um garçom, e por isso posso afirmar que jamais vi os cavalheiros por aqui.
Assim como afirmo isso, garanto que nunca soube de alguém, a não ser eu, cujo o
apelido seja Xanti. Digam-me, por Deus, como foi que adivinharam como sou
tratado?
Publicada
no Jornal Tribuna de Petrólois em 31 dezembro de 2013
A Imagem Viva
da Ternura
Angelo Romero (Academia
Petropolitana de letras)
Você
conhece, prezado leitor, a história de algum gênio que antes de comprovar sua
genialidade e obter fama e sucesso internacional não tenha sido classificado como
louco? Eu só conheci um: Oscar Niemayer. Assim mesmo nada me garante que seus
revolucionários traços para projetos arquitetônicos, quando então em início de
carreira era desconhecido, não tenham provocado tal afirmação. Este detalhe é fácil de ser explicado. O ser
comum não consegue entender, identificar e aceitar um gênio, antes que a mídia
o qualifique como tal. Todos os grandes inventores ou cientistas notáveis que
defenderam teses revolucionárias tornaram-se alvo de chacotas e vítimas de
desprezo e perseguição. Teria centenas de nomes para citar, mas, como exemplo,
cito apenas um: Galileu Galilei, genial matemático e astrólogo, que inspirado
no primeiro grande estudioso de astrologia, Nicolau Copérnico, foi excomungado,
perseguido e torturado pela Igreja Católica ao afirmar que a terra era redonda.
Mas,
afinal, o que vem a ser normalidade? O que pode ser considerado normal e o que
não pode? Quem sou eu para definir. Porém, posso afirmar que pessoa genial, ou
simplesmente excêntrica é toda aquela que apresenta um comportamento fora dos
padrões habituais, aceitos pela sociedade.
Dia desses
li uma matéria neste jornal que muito me emocionou, tanto pela qualidade do
texto de meu confrade Joaquim Eloy, quanto pela triste notícia que eu
desconhecia: o passamento da professora e amiga Denise Ribeiro Alves. Eu não a
classificaria de gênio, porém, posso assegurar que foi uma pessoa muito especial,
talvez até um pouco excêntrica e que exibia um comportamento fora dos padrões
ditos normais. Entretanto, foi uma criatura notável!
Conheci
Denise no pequeno teatro do amigo Sidney Carneiro. Não perdia um só espetáculo.
Nessas oportunidades, conversávamos bastante. Denise me surpreendia,
mostrando-se super bem informada com o movimento artístico e cultural da Cidade.
O fato de ser uma apaixonada pelo teatro, principalmente pelo o que era
apresentado em Petrópolis, já a colocou, diante de meus olhos, como uma pessoa
especial. A amizade, o respeito mútuo, nasceram imediatamente. Convidei-a para
passar o romper de ano em meu modesto teatro e centro de cultura. Foi um
reveillon agradável e emocionante. Dançamos e Denise me surpreendeu com seu
ritmo e leveza.
Elétrica e
vibrante, ela cruzava a Cidade diariamente de um lado para outro para informar
às pessoas do que estava para acontecer nos palcos e espaços culturais de
Petrópolis. O Centro de Cultura Raul de Leoni sempre foi seu ponto favorito de
parada. Ali ela recortava jornais e revistas, envelopava as notícias e saía
para distribuir. Nunca entendi o porquê de juntar ao noticiário artístico, um
pequeno panfleto que anunciava as promoções da semana de determinado
supermercado. Por respeito, jamais perguntei a Denise o motivo que a levava a
divulgar tal propaganda comercial. Porém devido à pureza de sua alma, jamais acreditei
que ela pudesse estar levando alguma vantagem com isso. Entretanto, este
pequeno detalhe poderia ser o suficiente para que determinado tipo de gente,
desprovida de sensibilidade para entender e respeitar uma pessoa especial,
porém movida pela mesquinhez inerente ao ser humano, fosse capaz de dizer, em
tom maldoso, ao ver Denise se aproximar: “chi, lá vem ela”!
Mas a
importância de Denise para a Cidade, não se limitava apenas no eficiente
trabalho de informar. Ela participava ativamente das reuniões dos grupos
teatrais da Cidade, debatia, opinava e sugeria soluções. Jamais se omitiu.
Quando Denise se ausentava das ruas por uns
dias, eu me preocupava. Logo entendia o motivo da ausência: Estava presa ao
leito de um hospital para receber transfusão de sangue, transfusão essa que não
curava seu mal mas apenas lhe proporcionava uma sobrevida. A vida, para ela,
teve inúmeros recomeços. E foram tantos os renascimentos que até a morte passou
a temê-la e respeitá-la. Penso que o fato de se movimentar constantemente de um
lugar para outro, foi o meio que Denise descobriu para despistar a temível
imagem e a única infalível. Quero acreditar que a morte foi visitá-la num
momento em que Denise
estava dormindo ou muito distraída. E, mesmo assim, imagino até que usando de
subterfúgio, pois ao invés de levar a tradicional foice, a morte armou-se de um
arranjo de rosas brancas.
A partir
de agora, lamentando profundamente tal perda, vou ser forçado a ler os jornais
da Cidade, a ver o noticiário das TVs locais e a acessar o famigerado Facebook
para me manter informado dos acontecimentos artísticos e culturais programados
para Petrópolis.
Até breve,
querida amiga.
Imagem do Google - desconheço a autoria
BIOGRAFIAS: Censura ou
Liberdade?
Angelo Romero (Academia
Petropolitana de Letras)
Eu não
conheço um rosto que não possua duas faces. Assim eu vejo a vida: tem o lado
bom e tem o lado mal. Para o ser humano comum, anônimo (esmagadora maioria do
povo), só existe duas possibilidade de virar notícia: ganhar o maior prêmio da
Sena, sozinho, ou ser vítima de uma tragédia. Sem prestígio, fama e fortuna
costuma passar despercebido, andando livremente pelas ruas sem ser notado e sem
precisar pagar seguranças para lhe proteger da violência urbana e do assédio
dos fãs. Daí costuma vir à frase: Liberdade não tem preço. O cidadão anônimo é bem mais um número de
registro do que o nome que carrega. Mas, em compensação, ninguém lhe pede
favores, dinheiro emprestado e jamais se torna vítima de um dos maiores defeitos
do ser humano: a inveja. Este preâmbulo é para falar de um assunto que vem
ocupando o noticiário: Biografia. Discute-se o direito à privacidade do cidadão
e o direito do biógrafo escrever sem precisar do consentimento do biografado.
Para surpresa minha, logo Chico Buarque, filho do grande Buarque de Holanda que
se notabilizou por ter sido um notável historiador? Faz sentido isso? Já
imaginou caro leitor, tudo o que já foi dito, escrito e mostrado sobre Chico
Buarque? O que teria feito Chico de tão grave que gostaria de esconder? Fico a matutar.
Será que ele tem medo que digam que é “uma perna de pau”, mas que adora jogar
suas peladinhas em seu campinho de futebol com os amigos? Isso seria grave?
Será que ele receia que digam que sua fisionomia atual, um pouco inchada, é
fruto de seu consumo de álcool, ou que já fumou ou ainda fuma um baseadosinho
com os amigos? E se for verdade, seriam graves tais licenciosidades? Seria uma
falha de caráter? A quem ele estaria prejudicando? Mas Chico não está sozinho
em ser contra a liberdade de expressão. Outros nomes famosos estão ao seu lado.
Não sei como posso ver um cidadão de esquerda, que lutou contra a ditadura,
passar a se favorável à censura. Que nossos políticos não queiram ser
biografados, faz o maior sentido, mas um grande artista? Bem, conheço um
artista famoso que o mínimo que costuma atrasar para começar seu show é 30
minutos. Um desrespeito com seu público. Conheço algumas versões que contam o
motivo que o faz atrasar. Mas não sou ingênuo de revelar o nome do artista, nem
o tipo do tal motivo. Este, por certo, nunca irá permitir ser biografado.
Por ser
escritor posso dizer que sinto orgulho de dizer que sou membro titular das duas
mais nobres instituições literárias da cidade de Petrópolis e, mesmo assim,
considero-me um anônimo, para o grande público. Nunca ninguém me parou para
pedir um autógrafo. Ando livremente pelas ruas. Vou a qualquer lugar que o
dinheiro possa me permitir ir, sem ser incomodado. E daqui mando um aviso: Se
algum biógrafo estiver lendo essa matéria e desejar me biografar, é só entrar
em contato comigo e dar o preço. Pago se a quantia pedida estiver ao meu
alcance. Eu só tenho arrependimento de coisa que não fiz. Não tenho nada do que
esconder e do que me envergonhar. Jamais prejudiquei quem quer que seja. Se não
puder ajudar, como já ajudei a alguns artistas em início de carreira, jamais
irei atrapalhar. Podem esmiuçar, tanto minha vida particular, quanto à
artística e literária. Já produzi muita coisa no campo das letras e das artes em geral. Mesmo não
confiando na atual Justiça de meu país, uso-a se for caluniado. Esta é a única
arma a que o biografado possui para se defender e não a da censura prévia. Quem
não deve, não teme, não se esconde e sente prazer de mostrar a cara.
O ELEVADO
Angelo Romero (Academia
Petropolitana de Letras)
Quem já
não ouviu esta frase: “O brasileiro não sabe votar”. Não se ofenda prezado
leitor, pois toda regra tem exceção. Há bastante tempo o prefeitinho do Rio,
que adora fazer turismo no exterior às nossas custas, prometeu cometer um crime
hediondo contra a cidade do Rio de Janeiro, ou seja, derrubar o elevado da Perimetral.
Por que será que ele “é levado” a cometer tal crime? Por achar que o nosso
elevado é muito feio? Vocês acreditam nisso? Sabem quanto foi gasto (dinheiro
do povo) para construir a Perimetral? Sabem quanto vão gastar para demolir?
Sabem quanto vão gastar na construção de túneis para substituir o elevado?
Vocês sabem que toda obra pública é superfaturada, não sabem? Mas será que
vocês sabem como é que as grandes empreiteiras ganham as concorrências
públicas? E assim mesmo quando existe a tal concorrência? Vocês sabem calcular
o valor percentual que as empreiteiras costumam pagar, a título de gratificação
para quem aprova e permite a realização de obra tão suntuosa e dispendiosa? Pois,
prezado eleitor carioca, como é que sabendo as resposta para tais questões você
reelegeu o nosso prefeitinho? Acredita que o elevado é feio e que sem ele a
cidade ficará mais bonita? Acredita que o já caótico trânsito vai fluir melhor
sem a Perimetral? Acreditam que as águas
das tempestades de verão, capazes de inundar a cidade, escoarão imediatamente
dos túneis devido à qualidade e presteza dos serviços elétrico-hidráulicos com suas
possantes bombas de sucção? Acredita que não faltará energia elétrica na
cidade, nos temporais? Acredita que ninguém irá passar mal, engarrafado dentro
dos túneis? Acredita que os bandidos de ocasião não irão aproveitar o
engarrafamento para assaltá-lo? Você terá coragem de levar em seu carro sua
mãe, sua mulher, seu filho ou seu neto, para passar no túnel em dia de chuva
forte? Se você acredita nisso tudo, ou é a pessoa mais ingênua na face da
terra, ou reelegeu com seu voto o nosso prefeitinho por não saber votar. Em
ambos os casos, saiba que você será coautor de um crime hediondo contra o Rio
de Janeiro.
A parte
esclarecida da população do Rio chora, até hoje, a derrubada criminosa de um
dos mais imponentes prédios de nossa arquitetura: o prédio do Monroe, antigo
Senado Federal e, tenho certeza, chorará lágrimas de sangue, engarrafado no
trânsito, com saudades do elevado da Perimetral, principalmente você, que assim
como eu mora em Petrópolis e já se queixa do tempo gasto de viagem para o Rio.
Eu, que sou carioca, que já estou aposentado e que raramente preciso ir para o
Rio, quando derrubarem a Perimetral talvez eu não vá mais.
Imagem de pesquisa ao Google - desconheço a autoria
Sacerdócio? Onde? Quando?
Angelo
Romero (Academia Petropolitana de Letras)
Uma boa nota do jornalista Ricardo Noblat,
publicada no “Globo”, me inspirou a escrever esta matéria.
Sim, eu sou do tempo em que a profissão de
médico era considerada um sacerdócio. Faz é tempo isso! Quando eu era criança,
poucos acreditavam que eu pudesse ter vida longa, devida a minha desnutrição e
frágil saúde. Se hoje estou com setenta e sete anos, devo aos médicos que me
atenderam e a Deus, que os colocou em meu caminho. Não existia cesariana quando
eu nasci e fui retirado a ferros. O médico obstetra perguntou ao meu pai quem
ele deveria salvar: a parturiente, minha mãe, ou a criança, já que os dois seriam
humanamente impossíveis. “Salve minha mulher, doutor – respondeu meu pai. Com
ela poderei tentar um novo filho, mas sem ela...” Meu nascimento e a vida de
minha mãe se constituíram no grande milagre da medicina. Com um ano de idade
estava eu designado a morrer, devido a uma renitente retenção de urina. Dr.
Clape, meu pediatra, me salvou com sua competência e dedicação e, com as graças
de Deus, pois que meu caso, na época, foi considerado um verdadeiro milagre.
Quando adolescente, fui vítima de hepatite infecciosa, das mais graves.
Salvou-me, atendendo-me em minha casa, o Dr. Moacyr Figueiredo Ramos, chefe do
Corpo Médico do Banco do Brasil. Após violento infarto, ele, Dr. Moacyr, foi
aconselhado a reduzir sua carga de trabalho à no mínimo 50% de seus atendimentos.
Ele não concordou e um novo infarto lhe ceifou a vida. Quando me aposentei e
vim morar em Petrópolis, procurei descobrir um médico (clínico geral) para me
atender numa necessidade. Mais uma vez o dedo de Deus (destino) colocou diante
de mim o saudoso Dr. Spilmann que, por suas inúmeras especialidades,
competência e dedicação, tornou-se o médico de toda a minha família. Com seu
triste falecimento, passei a me sentir órfão. Pele menos para mim, tinha sido
ele o último médico brasileiro que fez da medicina um sacerdócio. Ele, assim
como um sacerdote, ouvia o cliente e o atendia pelo tempo que fosse necessário.
Os médicos atuais estão marcando consulta de 15 em 15 minutos,
independentemente da gravidade do paciente. E olha que não estou me referindo
ao atendimento pelo SUS.
Mas será que estou gastando todas essas
linhas para falar de minha vida em relação aos médicos que me atenderam? Claro
que não. Este texto inicial é apenas um longo preâmbulo para falar sobre um
problema que está se tornando um tabu nos órgãos da imprensa: A importação de
médicos cubanos (estrangeiros) para o Brasil pelo governo brasileiro. Meu Deus!
Quanto mais vivo, tanto mais entendo de quanto é sórdida a política em nosso
país. Comparo a política com o futebol, nosso esporte maior. Quem torce por
determinado clube, tona-se incapaz de apreciar uma bela jogada ou um gol de
placa do clube adversário. O fanatismo deixa-o cego. Embora eu tenha minha
preferência por determinado clube, torço, antes de tudo, pela beleza do
espetáculo. Não me permito cegar por uma bela jogada. Não torço pelo PT, por
Dilma ou por qualquer outro político. Torço por uma medida que considero
acertada, porque torço pelo Brasil. Se tivéssemos em nosso país tantos médicos
como temos advogados, a medicina estaria salva. Existem milhares de municípios
em nosso país em que não existe um único médico. Há algum tempo em Lagarto,
Sergipe, terra de meu pai, o médico da cidade era um dentista. Acreditam? Os
médicos brasileiros, quando se formam, querem trabalhar no eixo Rio - São
Paulo, num confortável consultório refrigerado com Internet e, se possível, uma
bela secretária. Sei que toda regra tem exceção e eu jamais generalizaria.
Petrópolis, que não podemos considerar uma cidadezinha do interior e, que é
próxima do Rio, sofre com a falta de médicos. Não falta qualidade, falta
quantidade. Experimente marcar uma consulta de 15 minutos com um conceituado
médico daqui e calcule quando ele irá lhe atender, se você não morrer antes do
dia marcado! E olha que não falo do SUS. Será que alguém desconhece que a
medicina tornou-se um dos orgulhos de Cuba, por sua competência e eficiência? E
que importa a nacionalidade do médico? Será que por ser oriundo de um país de
regime comunista é inferior ao de um médico de país democrático? E onde estará
a democracia e a liberdade num caso como esse?
Boa parte da classe médica brasileira, aliada e apoiada por um grande
segmento de nossa mídia, condena a importação. Mas, pergunte a um desses nossos
médicos se ele estaria disposto a clinicar numa pequena cidade de nosso
interior, pergunte. Estou certo que quem poderá me responder é o povo que sofre
e até morre nas filas dos hospitais públicos, por falta de atendimento ou por
atendimento inadequado. E o médico-família, aquele que atendia na casa do
cliente quando este estava impossibilitado de se locomover, será que ainda
existe? Pergunte se algum médico moderno fornece o número de seu telefone
residencial, pergunte! E nossos hospitais públicos, será que estão devidamente
aparelhados? A importação de médicos é uma medida saudável, mas, quando muito,
poderá amenizar o problema, já que o sistema de saúde publica no Brasil está um
caos.
Desculpem meu desabafo, mas sou do tempo em
que à medicina era um sacerdócio, e que me compadeço com todas as famílias que
perderam parentes queridos por falta de atendimento. Que sejam bem vindos os
médicos de qualquer parte do mundo que queiram clinicar no Brasil.
Publicada no Jornal Tribuna
de Petrópolis em 04/04/2013
Imagem do Google
PROCURA-SE
A MEMÓRIA PERDIDA
Angelo
Romero (Academia Petropolitana de Letras)
O título desta matéria ficaria bem nos
classificados dos principais jornais do Brasil, já que nosso povo é, por
tradição, desmemoriado em relação aos ídolos e grandes vultos do passado, em
todos os segmentos de nossa história: patrióticos, culturais e artísticos.
Certa ocasião, em conversa com Abelardo Romero, meu pai, poeta, jornalista e
historiador, perguntei a ele o porquê das pessoas idosas perderem a memória,
justamente elas, as que mais fatos registraram ao correr do tempo! Seria em
função da longevidade? Coincidentemente, também preocupado com o assunto,
Abelardo acabara de ler um livro escrito por um famoso cientista estrangeiro,
que versava justamente sobre o problema: “Perda da Memória”. Não me lembro do
título do livro e muito menos da nacionalidade e do nome do tal cientista, pois
minha memória já me trai.
Entretanto, o que ouvi a respeito me
surpreendeu e eu jamais esqueci. A perda da memória não está relacionada,
exclusivamente, à idade avançada. É um problema clínico que pode afetar
qualquer pessoa, independentemente da idade que possa ter. No entanto, e aí vai
a surpresa, no caso da pessoa idosa, a perda é bem mais frequente e acentuada
em função do desinteresse por certos aspectos da vida, a partir da falta de
perspectiva pelo futuro. O idoso passa a ser bem mais seletivo. Justamente pelo
acúmulo do armazenamento de fatos em seu cérebro, acontecimentos e sonhos não
realizados, vão fazendo com que ele perca o interesse e esqueça. Ou seja:
baseado em profundos estudos científicos, o autor do livro garante que a falta
de memória, no idoso, engloba 50% de problemas clínicos e 50% de desinteresse.
Exemplo: pergunte a um idoso, à noite, algo sobre o passado remoto e o que ele
consumiu no almoço daquele dia. De um fato antigo ele se lembra, mas de um
recente não. Simplesmente pelo fato de que não lhe interessa lembrar o que
ingeriu no almoço. No entanto, do passado, raramente esquece. Datas talvez, mas
o que ocorreu, nunca. Porque será que a pessoa idosa esquece de tomar seus
remédios? Porque sabe, que apesar da importância, o remédio é para lhe manter
viva. Se fosse para lhe devolver a juventude perdida ela jamais esqueceria de
tomá-lo.
O problema de falta de memória para o
brasileiro é agravado por um fator cultural. Façamos um teste: apresente para
um aluno de segundo grau, por exemplo, uma lista com nomes que ajudaram a
escrever nossa história, nos mais diversos segmentos e pergunte se ele sabe
dizer quem fez o que. Se nesta relação constar o nome de um famoso jogador de
futebol e o aluno for um apaixonado por nosso principal esporte, talvez ele
saiba responder. Mas se foi um herói, um escritor, um cientista, um inventor ou
um grande artista, não creio.
Será que nosso povo ainda se lembra de
nossos antigos ídolos do rádio brasileiro? E imaginem quão extensas seria a
lista! E nossos principais ídolos do teatro e de nossa música popular? E isto
apenas para citar os ídolos do povão.
E
dos ídolos mais recentes, que marcaram seus nomes através da televisão. Logo,
logo estarão esquecendo de Chico Anísio, falecido recentemente e que além de
ter sido um ator completo, foi o maior gênio do nosso humorismo!
De
nossos políticos, é natural que o povo esqueça, pois se não os tivessem
esquecidos, não os teriam reelegido apesar de terem sido condenados por improbidade
e corrupção.
Perguntem a um carioca que trafega todos os
dias por uma das principais artérias de Copacabana, quem foi Barata Ribeiro;
perguntem a um petropolitano comum, quem foi Floriano Peixoto. Ele sabe onde
fica rua, mas dificilmente saberá o porquê da homenagem ao nome que está na
placa indicativa.
Resumindo: Além dos problemas clínicos,
ficou mais do que provado que a falta de memória não só é em função do
desinteresse do idoso, como também da falta de cultura da população. Vejam em
que estado estão nossos bustos e estátuas em nossos parques e jardins públicos.
E não é um problema petropolitano, é nacional. Quem os emporcalha, antes de
serem pichadores, são ignorantes. Parte da culpa cabe aos nossos educadores,
escritores e à imprensa em geral. É nosso dever, como membros das principais
entidades da Cidade, voltadas para a cultura, reverenciar quem nos deixou um
legado cultural, como está fazendo, por exemplo, a Academia Brasileira de
Poesia que, em parceria com a Fundação de Cultura e Turismo de Petrópolis estão
publicando o livro “Luz Mediterrânea”, de Raul de Leoni, nosso poeta maior,
para ser distribuído gratuitamente para a população e, principalmente, para os
alunos das escolas municipais. Vejam também como está fazendo a presidência da Academia
Petropolitana de Letras, juntamente com membros de sua diretoria, ao preparar
uma palestra festiva que ocorrerá ainda este ano, em comemoração ao centenário,
se vivos estivessem, de nossos ilustres confrades, companheiros de um passado
recente. Mas para que tais providências possam ser tomadas, se faz necessário
que as diretorias das referidas Academias, deixem subsídios sobre a nossa
história para a próxima e, assim, sucessivamente - providência essa que não
estava ocorrendo.
Se todos os nossos heróis, artistas e vultos
históricos, em geral, pudessem ter sido lembrados e homenageados por nossos
veículos de comunicação, como foi, no ano passado comemorado o centenário do
privilegiado Nelson Rodrigues, a memória do povo estaria bem melhor.
Finalizando, cito parte da letra de um
compositor brasileiro, do qual esqueci o nome, que diz: “quem quiser fazer por
mim, que o faça agora, enquanto ainda estou vivo”.
Publicada
no jornal “Tribuna de Petrópolis” em 07 de agosto de 2013
Imagem do Google
NEM
TUDO NO BRASIL ACABA EM PIZZA
Angelo
Romero (Academia Petropolitana de Letras)
Ao acabar de ler hoje duas matérias
publicadas num jornal, percebi que uma bem que poderia fazer parte da outra. A
segunda notícia fala que o gasto dos brasileiros no exterior chegou à fabulosa
quantia de US$1,9 bilhão, batendo recorde preocupante e extraordinário. A
primeira matéria, publicada no “The New York Times”, principal jornal
norte-americano, e assinada pelo jornalista Simon Romero (deve ser um parente
que não conheço) compara os preços dos artigos comprados pelos brasileiros no
exterior, aos preços que teriam que pagar, se os comprasse no Brasil. Eu, que a
princípio, pelos meus princípios patrióticos, achei um absurdo a quantia que
nós brasileiros estamos gastando no exterior, mudei imediatamente de ideia. Um
pequeno exemplo: um aparelho Samsung Galaxy S4, que nos EUA custa US$615, aqui
custa quase o dobro. Um berço para bebê, aqui, custa seis vezes mais caro que
um similar de uma famosa rede americana. E ao final o jornalista diz que o
americano ficou impressionado quando soube que o brasileiro paga 30 dólares por
uma grande pizza de mussarela quando por lá, uma pizza similar, é comprada pela
metade do preço. A lista com comparação de preços é extensa e prova que nós
pagamos quase o dobro por tudo, em função de dois problemas que nos parecem insolúveis:
os gastos públicos e altos percentuais dos impostos cobrados à população. Daí o
porquê do aumento de dez centavos nas passagens dos nossos ônibus ter sido a
gota d’água que fez gerar todo esse movimento de revolta popular. Tivesse eu
dinheiro para viajar, por certo estaria colaborando para engordar o recorde do
valor gasto com compras no exterior.
Por
acaso o prezado leitor sabe sobre a origem da expressão: “No Brasil tudo acaba
em pizza?” Bem, pizza é um tipo de alimento ligeiro, de origem italiana e que
caiu no gosto do povo brasileiro. Recordo-me de que quando quatro ou mais
amigos reuniam-se num barzinho do Rio, ou em qualquer recanto do país para
jogar conversa fora e curtir algumas rodadas de chopp, a pizza, cortada em
pequenos pedaços, sempre foi o tira-gosto preferido da turma, tanto por
acompanhar bem as bebidas, como por ser o mais barato. Este hábito nós fomos
perdendo em função do preço cobrado hoje pela pizza e, porque não dizer, pelo
chopp também.
Quando, principalmente nos fins de semana, a
dona da casa procurava evitar ir para a cozinha, encomendava uma pizza, tamanho
família, pelo telefone. Tal medida costumava ter a aprovação de todos, pois
representava economia de desgaste físico, de tempo e de dinheiro,
principalmente quando a “grana” andava curta para um prato mais sofisticado e
dispendioso.
E assim, aos poucos, a pizza se transformou
num negócio tão lucrativo, que certas famílias da classe média passou a fazer
em casa, para vender, aceitando encomendas dos parentes, vizinhos e conhecidos.
O tempo passou, o negócio se desenvolveu,
assim como a ambição, baseado no tal do efeito da “oferta e da procura”. .Em
consequência do excesso de ofertas e do aumento dos preços, caiu a procura.
Para os restaurantes especializados, principalmente os que oferecem a pizza
assada ao forno de lenha, (mais saborosas), continua sendo um bom negócio em
função da margem de lucro proporcionada pelo preço cobrado, comparado ao valor
empregado na matéria prima.
Em casa, aos domingos, famílias com menor
poder aquisitivo, já estão preferindo um sanduíche feito com pão dormido,
esquentado no forno, do que encomendar uma pizza.
Resumindo a estória: a tal expressão, antes
tão difundida, que dizia que tudo no Brasil acabava em pizza, só não deixou de
existir, em face de nossa famosa JUSTIÇA. Os escândalos, os roubos e a
corrupção estão cada vez mais frequentes. Se tais crimes, de ordem
governamental, dependerem de apurações relegadas às comissões parlamentares,
compostas pelos representantes do povo no Congresso, é o mesmo que colocarem
raposas para por ordem no galinheiro. Entretanto, se a apuração, em face da
natureza dos crimes, couber à nossa Polícia Federal, o resultado será mais
doloroso, escandaloso e profundamente lamentável, pois enquanto nosso principal
órgão policial demonstra cada vez mais eficiência, capacidade e lisura, 90% dos
escândalos (talvez mais) comprovados através de provas irrefutáveis, são
arquivados por nossa JUSTIÇA. E haja tapete para esconder tanta corrupção,
tanto roubo, tantas negociatas ilícitas, tanta falcatrua e tanta imoralidade
governamental. Não sou tão ingênuo para acusar nossos Juízes e Desembargadores
de desonestos, muito embora não coloque minhas mãos no fogo por alguns.
Entretanto, não culpo exclusivamente a nossa JUSTIÇA, pois sei que a falta de
um julgamento honesto é um problema universal. O poder, na maioria das vezes,
está acima dos justos e a JUSTIÇA nada mais é do que um reflexo do poder, o
espelho que nos trai, mostrando a face esquerda, no lado direito. É a balança
que tem num dos pratos o ouro dos ricos, e no outro a razão dos pobres. Para
que lado vocês acham que o prato desta balança irá pender? E quanto maior for o
desgoverno, mais serão injustos os pareceres finais.
Concluindo: se depender de nossos políticos
e de nossa Justiça, a expressão que diz que no Brasil tudo acaba em pizza, irá
se eternizar.
OS VÂNDALOS
Angelo Romero (Academia
Petropolitana de Letras)
Não me dirijo ao povo brasileiro, a esse
povo sofrido, que a mais de século, governo após governo, sofre com os
descalabros, os pesados impostos e a corrupção e, apesar de tudo, canta, sorri
sem se sentir amparado e ainda recebe quem por aqui chega, vindo de qualquer
parte do mundo, de braços abertos. Falo para uma minoria, para os vândalos que
emporcalham o nome do Brasil mundo afora, destruindo uma imagem que poderia ser
extremamente positiva. Imagem de um povo que, apesar de pacífico, está se
politizando e mostrando que não suporta mais tanta corrupção, tantos escândalos
administrativos sem que haja punição. A grande fortuna do povo brasileiro está
depositada nos bancos da Suíça, mas só alguns poucos têm direito a retirar da
conta.
Um pequeno copo de água atirado fez
transbordar a piscina. Ou seja: vinte centavos a mais numa passagem de ônibus
fizeram deflagrar este movimento das massas em quase todas as cidades
brasileiras. Engana-se quem pensa que foram esses míseros vinte centavos o
causador do tal movimento E, o mais importante de tudo é que é um movimento
anti-partidário. O aumento do preço dos ônibus foi apenas uma gota d’água. E
esta gota d’água está representada pelo estado calamitoso da saúde que, para
mim é o maior problema dentre todos. De que adianta ter vale moradia, vale cota
de ensino, vale transporte e até vale diversão para quem não tem saúde. Uma
cidade como Petrópolis, carente deste mal, basta ver o número exorbitante de
farmácias, vê um de seus mais tradicionais hospitais fechar (Casa da
Providência) e não reage imediatamente contra este absurdo. O povo não quer
esmolas, quer meditas efetivas, consistentes e justas, capazes de mudar este
estado de coisas. Já imaginaram se o povo pudesse votar o aumento de seu
próprio salário como fazem os congressistas? Quanto pediria, por exemplo, um
professor, profissão vital para um país? Outro grave problema é com a falta de
escolas. Um povo sem cultura usa seu dever de votar, para colocar no congresso,
como seu representante, uns “Tiriricas” da vida. Quem poderia representar
melhor a incultura? E a nossa justiça, que não pune a corrupção dos políticos e
só existe para proteger os poderosos. E a reeleição para a Câmara e para o
Senado de famosas ratazanas que deveriam estar atrás das grades, hem? Outro
problema grave é o crescente número de vereadores, deputados e senadores a
corroer nossa economia com seus astronômicos salários. E a tentativa da criação
desnecessária de novos municípios, com o simples propósito de empregar políticos,
também é outro problema. Sabemos que este desperdício de dinheiro público é um
dos causadores da inflação e a inflação, este monstro sem cara, já está nos
ameaçando e se tornando mais um problema a ser combatido.
O brasileiro tem direito de querer bancar
uma nova Copa do Mundo, mas garanto que ele não contava com o valor
superfaturado dos elefantes brancos, dinheiro gasto para triplicar a fortuna de
quem já era rico e atender, de forma subserviente, às exigências de dona Fifa.
Após a Copa do Mundo o que fazer com os milionários elefantes brancos erguidos
em Manaus e em Brasília, onde sabemos, não existe praticamente futebol? Talvez,
quem sabe, possam arrendar para o “Bispo” Macedo e outros menos votados, para
que eles possam reunir com conforto, num só espaço, oitenta mil inocentes
seguidores. Outro gravíssimo problema diz respeito ao nosso código penal. O
jovem de dezesseis anos já tem o direito de votar, mas tem também o direito de
matar sem ser severamente punido. Acabo de ler na “Tribuna de Petrópolis” que
um menor de 16 anos acabou de assaltar uma igreja e trocar tiros com a polícia,
e olha que ele já tem dez passagens pelos distritos policiais. É, ou não é um
grande assassino em potencial? Enquanto não forem revistas as leis criminal e
eleitoral, continuaremos na mesma. E para que esta infinidade de partidos
políticos se o único que tinha um ideal popular e uma plataforma política era o
PT e deu no que deu?
Como
pode ver, prezado leitor, volto a dizer: não foram os míseros vinte centavos
nas passagens dos ônibus que fizeram provocar este movimento de grandes
proporções. Motivos muito mais importantes e graves têm o povo brasileiro para
protestar. Sou, como não poderia deixar de ser, favorável ao movimento. Porém,
o que me preocupa é a ação dos vândalos que, infiltrados no povo, a depredar
veículos de pessoas que não tem culpa, e a depredar o comércio, os prédios
públicos e etc., ainda se aproveitam para saquear, causando uma onda de
destruição pelas cidades. E quem sofre também muito com isso é o policial que
cumpre seu dever e que tentando proteger a cidade da destruição, vê sua vida
ameaçada sem ter o direito de reagir para não ser acusado de violento. O
político, causador de toda a nossa desgraça, ganha um salário astronômico para
nos roubar e não corre risco de vida. Já
o policial que ganha mal, arrisca sua vida para nos proteger. É, ou não é
injusto? E, para concluir, reproduzo os dizeres de um cartaz de cartolina, que
já corre o mundo, exibido por um verdadeiro brasileiro, que diz: “Um país
mudo... Não muda!”
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Como curtir a curta cultura
(Angelo Romero (Academia
Petropolitana de Letras)
Afirmo, com certo prazer, que conheço boa
parte da obra literária de meus colegas da Academia Brasileira de Poesia e da
Petropolitana de Letras. Conheço, também, o trabalho dos nossos principais
artistas de teatro (atores, atrizes, autores, diretores, professores e etc. e
alguns poucos ligados à música: cantores, instrumentista e compositores
arranjadores). Ou seja: as artes, em geral, me fascinam e garanto, prezado
leitor, que você, petropolitano, deve se orgulhar de nossos valorosos artistas.
Entretanto, em contra partida, estou a par, há vinte anos, do que não se tem
feito, no âmbito governamental, em prol da cultura de nossa Cidade. E aí, meu
amigo leitor, você deve se envergonhar.
Ouvi dizer que nosso prefeito comprometeu-se
com separar a cultura do turismo e ainda não o fez. O fato de se ter juntado um
ao outro na mesma Secretaria já foi um absurdo; não separar, é negligência.
Pela beleza da Cidade, por seus atrativos, como o comércio da Rua Tereza, a
imponência arquitetônica de seus prédios públicos (Palácio do Governo, Palácio
de Cristal, Casa de Santos Dumont, a Catedral) e, porque não dizer, a
importância histórica de Petrópolis, já faz com que o turismo ande por suas
próprias pernas. Porém, a cultura é diferente. A cultura é uma mulher vaidosa que
precisa ser levada pelo braço de um cavalheiro, para ser apresentada à
sociedade. Não é como um monumento estático para ser fotografado e visitado. A
cultura precisa de um guia para ser vista, sentida e admirada. E por sua
importância e fidalguia, não lhe fica bem estender o chapéu para pedir esmolas
ao governo ou a quem quer que seja. Muito mais importante do que patrocinar
determinado artista, ou espetáculo isolado, é criar e manter projetos
inteligentes que possam, não só levar divertimento, arte e cultura ao povo,
como trazer este mesmo povo para assistir ao que de melhor possa estar em
cartaz nos teatros e salas de espetáculos administradas pelo governo. E quem
será capaz de criar e desenvolver projetos inteligentes? Pessoas cultas e
inteligentes ligadas diretamente à arte e à cultura. E essas pessoas existem.
Só eu, poderia citar uns dez nomes. E as nomeações para os cargos de comando,
não poderão ser feitas para atender interesses políticos colocando em cargos de
chefia pessoas despreparadas para a função de comandar a arte e a cultura.
Quando tal acontece, a verba destinada para ser empregada, que já é pouca, é
gasta de forma inútil. Querem um exemplo? O governo resolveu economizar a verba
que seria destinada ao carnaval, festa do povão, para usá-la na recuperação do
que foi destruído com o temporal. Palmas para o governo. Porém, pouco tempo
depois, gastou o equivalente, ou mais, contratando artistas de fora para se
exibir em show, diante de uma parte elitista da população (Itaipava), em
comemoração ao dia do trabalho. Quem lucrou com isso? O povo é que não foi.
Querem um outro exemplo do que não está se
fazendo em prol da cultura? Pois vou dizer: já estamos no meio do ano e nada
foi feito no Centro de Cultura Raul de Leoni e no Teatro Afonso Arinos. O que
soube foi que alguns projetos, que já existiam há muitos anos, foram suspensos,
sendo que, a meu ver, o mais importante era o que oferecia aprendizado de
teatro a pessoas que pertencem ao grupo da terceira idade. Os “titios”, revoltados, estão se sentindo
órfãos de pai e mãe. E, para piorar o descaso, ainda não foram abertas as
inscrições para que os grupos e companhias de teatro da terra possam ocupar o
espaço para poder apresentar seus espetáculos. O que está verdadeiramente
acontecendo, ainda não consegui apurar. Não é outro absurdo?
Eu sei que criticar o governo, sem
apresentar soluções é muito fácil. Mas eu jamais faria isso. Existem acertos?
Claro que existem, mas são tão poucos que caberiam num parágrafo. Entretanto,
para apontar os erros administrativos em áreas tão importantes para a nossa
população, seriam precisas várias crônicas. O que me cabe fazer tenho feito, ou
seja, divulgando e aplaudindo o que se tem apresentado de bom, em termos de
teatro, em meu programa “Bastidores”, no Canal 19, TV Vila Imperial, e
criticando o que está se deixando de fazer. Talvez eu volte a tratar dessa
matéria numa outra oportunidade nesse precioso espaço, se me for dado o direito
de usá-lo.
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Os “Quinto dos Infernos”
Angelo
Romero (Academia Petropolitana de Letras)
No meu tempo de estudante, sempre fui
apaixonado por duas matérias: português e história. Talvez já fosse, sem saber,
minha tendência para me tornar escritor. Porém, uma curiosa e histórica matéria
enviada a mim por e-mail, pelo companheiro Luiz Carlos Gomes, presidente do
Instituto Histórico de Petrópolis, fez reavivar minha memória. A matéria trata
da origem do desabafo que diz: Os “quinto” dos Infernos. Por ser um fato
curioso de nossa história, pedi licença ao companheiro Luiz, para divulgá-la;
essa expressão foi gerada durante o Século XVIII, quando então o Brasil –
Colônia pagava um alto tributo ao seu colonizador, Portugal. Tal tributo, que
correspondia a 20% sobre tudo o que o nosso país produzia, incidia,
principalmente sobre o ouro, que era o até então mais precioso dos metais, com
jazidas muito abundantes em nossa terra, pontificando nas Minas Gerais e foi
daí a origem do nome de um dos mais ricos estados de nossa federação. Por ser
os 20% uma taxa escorchante (1/5) de nossa produção, fez gerar uma odiosa
revolta em nossa população, revolta essa que proporcionou o famoso movimento
rebelde intitulado de “Inconfidência Mineira”. Joaquim José da Silva Xavier,
que por ser dentista tornou-se conhecido pela alcunha de Tiradentes, foi quem
liderou o movimento. E, mais que isso, por seu destemor e bravura assumiu toda
a responsabilidade, ocultando os nomes de seus seguidores com desprendimento,
apesar de todas as beneficies que a Coroa Portuguesa lhe oferecia para que
entregasse seus companheiros. Bem mais por esse feito, do que pelo movimento em
si, é que considero Tiradentes o maior herói da história do Brasil. Porém, aqui
sou forçado a abrir um parêntese. Existe um livro que está fazendo sucesso e
que, entre outros relatos, oferece uma versão totalmente diferente sobre a
“Inconfidência Mineira”, inclusive afirmando que Joaquim José da Silva Xavier
jamais morreu na forca e sim, um pobre coitado anônimo, que serviu como bode
expiatório. Em quem acreditar? Nos livros escolares que gostava de ler? Na
versão oficial, que interessa às autoridades ou no livro que nos conta uma
história totalmente diferente? Minha idade é avançada, mas não chega a tanto de
ter sido testemunha ocular do fato. Também não sou espírita, nem tive
oportunidade de receber mensagens do além, como até gostaria. Sendo assim,
prefiro me deter na história oficial, sendo ela verdadeira ou ficcionista. Com relação ao título dessa matéria, garanto
que até hoje se usa desse tipo de desabafo (provavelmente com desconhecimento
de sua origem) para tudo de ruim e de injusto que possa ocorrer. Será que nos
tempos atuais poderia surgir entre nós um novo Tiradentes ou outro herói capaz
de entregar sua cabeça à forca para proteger a vida dos companheiros, quando
vemos as barganhas em que nossos atuais líderes se sujeitam em troca de
nomeação para um bom cargo público? Não creio.
Mas vamos passar do Século XVIII para o
momento atual. De acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário
(IBPT), a carga tributária brasileira chegou ao final do ano de 2011 a 38% ou
praticamente 2/5 de nossa produção. Ou seja, a carga tributária é o dobro da
exigida por Portugal à época da Inconfidência Mineira, o que significa que
nosso povo paga agora de impostos, literalmente, “dois quintos dos infernos”. A
diferença é que hoje não temos um Tiradentes, ou similar. Somos cordeirinhos
que entendemos que o Governo precisa do nosso dinheiro para fazer o país
progredir e crescer. Afinal, como vamos poder alimentar a farra familiar dos
três Poderes (Executivo/Legislativo e Judiciário)? Como vamos poder aumentar o
número de vereadores, deputados e senadores? Como vamos poder criar novos
municípios, novas câmaras, governadores e prefeitos? Como vamos poder criar
novos ministérios para poder lotear entre os partidos e, com tal medida
favorecer reeleições presidenciais? Já existe até o Ministério da Pesca. Por
que não criar o Ministério da Caça, subdividindo-o com o da Caça Submarina?
Como vamos poder pagar um salário que deveria ser de um professor
especializado, mas que é pago ao contínuo que serve cafezinho na Câmara e no
Senado? Como vamos poder manter o alto nível de corrupção para poder nos
orgulhar de sermos pioneiros nessa saudável arte de distribuição de renda? Como
vamos poder acusar Portugal de ter explorado nosso povo, se podemos fazer
melhor? Como, por exemplo, o governador e o prefeito do Rio poderão dar não sei
quantas voltas na terra, em viagens de turismo, com o dinheiro público? Como
vamos poder construir os mais belos e suntuosos estádios de futebol do mundo, em
lugar de hospitais e escolas? Nosso dinheiro é confiscado hoje no dobro do
valor do “quinto dos infernos”, mas já não existem forca, nem heróis capazes de
mostrar que, num passado remoto o Brasil chegou a produzir homens bravos e
honestos. Uma coisa eu garanto: se houvesse forca para punir os corruptos
brasileiros, sobrariam pescoços.
O Trem e o
adesivo plástico
Angelo Romero (Academia
Petropolitana de Letras)
Certa
ocasião meu filho Affonso Romero, publicitário e escritor, me fez uma pergunta
pertinente e por demais observadora: Papai, o senhor já viu alguma Ferrari,
Mercedes Benz ou qualquer outra marca de automóvel própria para milionários com
adesivo colado no vidro? – Claro que não – respondi, pois se eu, quando tinha
um Fusca velho já era contra essa prática, como poderia colar numa Ferrari? Sei
que vou ser alvo de rancor de todos que usam deste expediente, e me perdoem,
mas colar adesivo em vidro de carro do tipo: “Papai, não corra”, “Eu amo minha
mulher”, “É velho, mas é meu” e “Foi Deus quem me deu”, é de um mal gosto de
doer. E o pior deles: “Deus é fiel”. Ora, se Deus não for fiel, quem será?
Este, por ser um óbvio ululante, como dizia Nelson Rodrigues, é bem mais do que
mau gosto. Mas todo esse intróito é para dizer que toda a regra tem exceção. E
a exceção é quando o adesivo propõe, defende e propaga um bem para a sociedade,
tal como: “Apóie a APAE”, “Adote uma criança”, “Seja um doador de sangue”, etc.
Eu, pela primeira vez, colei um plástico no vidro traseiro de meu carro. Tal fato
se deu no ano passado, quando um tipo de congresso (debate), em favor e em
defesa da volta do trem para Petrópolis, aconteceu no Centro Cultural de
Nogueira, local mais do que apropriado para o evento, já que o velho prédio,
que hoje abriga o “Museu do Trem”, abrigara, em saudoso passado, uma estação do
referido saudável e seguro transporte. Aceitei o plástico em defesa do projeto
e imediatamente o colei no vidro do meu carro. Aliás, diga-se de passagem, que muita
coisa boa tem acontecido lá pelo Centro Cultural de Nogueira, em face da
excelente administração do Sr. João Jr. e em colaboração do Sr. Luiz Carlos Veiga,
o que vem provar que uma nomeação quando não acontece exclusivamente por motivo
político, tem muito mais probabilidade de dar certo.
Diante da
Tribuna de Petrópolis de sábado passado, leio uma matéria em que afirmava que
nosso prefeito Rubens Bomtempo está levando o projeto para a volta do trem
entre Rio e Petrópolis, para Brasília. E eu pergunto: o que está acontecendo
com o nosso prefeito, pois mais adiante, na mesma edição do jornal afirmava,
ilustrando com foto, que, finalmente, havia iniciado o pagamento do benefício
do “Programa Aluguel Social”. Outra matéria que me chamou a atenção dizia que a
prefeitura voltaria a administrar o Hospital Alcides Carneiro, livrando-o do
caos em que se encontra, caos este causado pela empresa que o administrava que,
por sua vez, deixara de receber o repasse de muitos milhões de reais da
administração do antigo prefeito. E a tal má administração, apesar de causar um
tremendo mal para a população carente, que não tem como pagar um plano de saúde,
faz um pouco de sentido, pois que sabemos que Papai do Céu castiga quem faz
caridade com o dinheiro alheio.
Mas, voltemos ao nosso Bomtempo: será que ele pretende realizar nesses dois atuais anos de mandato, o que não fez nos quatro anteriores? Será que ele resolveu seguir a cartilha de nosso saudoso Juscelino, o maior político-admistrador brasileiro que fez o país crescer quarenta anos em quatro, como prometeu e construiu Brasília em tempo de inaugurá-la durante o seu mandato, sabendo, como é de praxe no Brasil, que uma grande obra realizada por determinado governo, dificilmente costuma ser concluída por outro? Pois se o nosso prefeito colocar a saúde em condições, ao menos aceitáveis, e conseguir emplacar o projeto com a volta do trem, terá realizado uma das melhores administrações desta Cidade, e que será lembrada com respeito, admiração e saudade por toda a população.
Como eu já
escrevi acima, sou contra invocar o óbvio, por isso deixo de afirmar a
importância do trem para Petrópolis. Afirmação mais do que desnecessária. Só um
lembrete: nos áureos tempos, viajar de trem para São Paulo era um verdadeiro
“barato”. Apesar das longas horas de viagem, em virtude da lentidão do trem, em
face do precário estado de conservação da linha férrea (trilhos e dormentes) a
viagem era econômica e agradável. E não se sentia o tempo passar. O passageiro
adormecia no Rio e acordava em São Paulo.
Mas , o que fizeram nossos gananciosos administradores:
suspenderam por um longo tempo a viagem e quando a reiniciaram, propuseram um
preço maior do que uma viagem aérea, com a não aceitável desculpa de que seria
uma viagem turística. Não deu certo e suspenderam os trens para São Paulo definitivamente.
Que o
nosso prefeito não permita que tal aconteça. Pois apesar de favorecer
substancialmente o turismo, que a viagem atenda a parte da população laboriosa petropolitana
que trabalha no Rio e que tem como obrigação, viajar de ida e volta
diariamente. Como sabemos que o custo do trem costuma ser menor que o do
ônibus, que ao menos o preço da passagem seja compatível, capaz de ser
oferecida ao usuário como sadia opção. E mais não preciso dizer.
Publicada na Tribuna de
Petrópolis em 15 de maio de 2013.
O Gigante
adormecido, despertou
(Angelo Romero (Academia
Petropolitana de Letras)
Não creio
que possa existir ou mesmo que ainda venha a existir um estádio de futebol no
mundo onde se tenha gasto ou que se venha a gastar um valor igual. Estádio este que nossos “macaquitos” de
imitação, tão condenados pelo saudoso Nelson Rodrigues, já estão classificando
e, em parte por culpa da imprensa, como “arena”. Na verdade, o estádio Mario
Filho, mais conhecido como Maracanã, jamais ficou pronto. Se somarmos o valor
superfaturado inicialmente empregado em sua construção para a Copa do Mundo de
1950, aos valores de não sei quantas reformas que sofreu ao longo dos últimos anos
e, mais a atual reconstrução, chegaremos a um total surreal. Duas notícias
publicadas em jornais do Rio provocaram em mim sentimentos díspares: o
primeiro, há mais de dois anos, provocou um sentimento nostálgico, saudoso e de
profunda tristeza e, o de agora, de revolta. Quando li que nossos políticos
defendiam a proposta de implodir o Maracanã, para que fosse construído um novo
e moderno estádio para a próxima Copa do Mundo, atemorizado com a idéia,
confesso que chorei. Alegavam eles que por melhor que fosse a reforma, o Maracanã jamais conseguiria atingir o nível
de conforto e modernidade exigido pela dona Fifa. Apesar de não concordar com a
implosão do velho estádio em função de sua história, achei que nossos políticos
tinham razão. Vendo agora como ficou o novo Maracanã, reconheço que, como um
ser comum, errei. Os nossos políticos também erraram. No entanto, tratando-se
de nossos políticos, tão acostumados à corrupção e ao enriquecimento ilícito,
tal erro me parece imperdoável. Deveriam saber que com o dinheiro público o
brasileiro é capaz de realizar a maior proeza. Corruptos existem em qualquer
parte do mundo. Está implícito numa determinada parte do ser humano.
Entretanto, no Brasil, a corrupção é oficializada. Não é combatida. Faz parte
de nossas tradições históricas. Qualquer brasileiro que exerça cargo ou função
em que o ato de roubar lhe seja favorecido, se não roubar e se mostrar íntegro,
é taxado como otário ou maluco. Ao invés de ser tratado com respeito, passa a
ser temido, transferido, posto de lado, como se fosse portador de doença
infecciosa, capaz de provocar uma epidemia se não for isolado.
Pasmem,
meus senhores! A última notícia revela que já foi gasto na reconstrução do
Maracanã mais de dois bilhões de reais, quantia esta que daria para construir,
creio eu, dois modernos estádios a partir das fundações. Todo mundo sabe que
construir é bem mais fácil do que reformar. Mas o Maracanã não foi reformado.
Nem as marquises foram aproveitadas. Na verdade. O que foi aproveitado foi o
terreno, a forma arredondada e mais nada.
Poucos, no
Brasil, estão qualificados, tanto quanto eu, para falar sobre o Maracanã.
Durante as décadas de 50, a
partir de sua inauguração em junho, e as décadas de 60, 70 e 80 eu só perdi um
jogo do meu Flamengo, naquele estádio. E mais, fui a diversos jogos entre
outros clubes pelo simples prazer de assistir uma partida de futebol de forma
confortável e livre. Fui à sua inauguração com o então jornalista Abelardo
Romero, que não por acaso era meu pai. Foi um jogo entre cariocas e paulistas e
a seleção do Rio perdeu.
Ao lado de papai, assisti a todos os jogos da Copa do
Mundo, confortavelmente instalado na tribuna de imprensa. Ao chegarmos em casa, após a trágica derrota do Brasil, vi
meu pai chorar pela primeira vez. Nostalgicamente lembro que sempre levava meu radinho
de pilha para tirar dúvidas quando o lance era distante e complicado. Em jogos
noturnos ouvia, durante a retirada do público, o mais famoso locutor da época
apregoar seu tradicional chavão: “Apagam-se os refletores e o gigante do
Maracanã já está adormecido”.
Hoje, como
está sendo fartamente informado, o Maracanã oferecerá o maior conforto. As
cadeiras estão numeradas e o lugar do público que assistirá ao jogo
confortavelmente sentado, estará garantido. Será? O estádio já está
classificado como obra de primeiro mundo, e o povo? Será que vamos ter que importar
suíços, japoneses e britânicos para que venham assistir aos jogos do Maracanã
de forma civilizada? Será que não haverá discussão de um que chegou em cima da
hora, com outro que chegou mais cedo e ocupou o seu lugar? Ora, meus amigos, se
isso acontece às vezes em teatro, em que o público costuma ser mais elitista? Será
que todos vão ficar sentadinhos, mesmo no momento crucial de um ataque com grandes
possibilidades de gol em jogo de decisão de campeonato, com o estádio lotado?
Esquecem que o brasileiro mal educado vê melhor com a bunda do que com os
olhos? Será que o tal conforto será melhor do que a antiga liberdade, liberdade
esta que favorecia o torcedor a trocar de lugar para ver melhor o ataque de seu
time, circulando pelo estádio livremente, até para favorecer a visão quando a
posição do sol afetava seus olhos, ou para se proteger da ventania de um
temporal capaz de lhe molhar, apesar da cobertura?
Não, não
sou saudosista, sou brasileiro. Faço parte de um povo que historicamente viveu
sob repressão e que, no Maracanã, livre de pressões, exercia democraticamente
seu direito de ir e vir, de escolher o melhor lugar e de trocá-lo se a troca
lhe fosse favorável. O que eu sou contra e que me fez afastar dos estádios, foi
a violência das tais torcidas organizadas que não vão pelo espetáculo em si, e
sim, para extravasar seu instinto belicoso.
Sou
pessimista em relação à educação de nosso povo. Se no passado já havia falta de
educação e cavalheirismo com relação às mulheres, aos idosos e às crianças,
hoje percebo que piorou. Quando cheguei a Petrópolis, há vinte anos, os
veículos paravam para que eu tirasse meu carro da garagem e eu, acostumado com
a estupidez de parte da população de meu Rio, ficava admirado. Hoje, raramente
um, ou outro respeita o que entendo como preferência. E pior, quando será que o
brasileiro irá se livrar da perniciosa “Lei de Gerson”, hem? Já que nossas leis
parecem que foram feitas para serem desrespeitadas, por que logo esta, a de
querer tirar vantagem de tudo, continua em pleno vigor? Será porque não é uma
lei governamental?
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Domésticas
Angelo Romero (Academia
Petropolitana de Letras)
O brasileiro paga de impostos um pouco mais
de 30% por mês do que recebe de salário. Considero um absurdo. Entretanto, sei
que não é o único país no mundo cuja carga tributária é alta, mas é certamente
o Brasil o que menos oferece, em troca, benefícios para a população. Não
preciso me estender. Não precisamos falar do deficiente ensino público, de
moradia e transporte. Basta falarmos do caos da saúde, já que é a saúde, no meu
entender, seguida da educação, os fatores básicos para o desenvolvimento de uma
nação. E porque coloco a saúde em primeiro plano? Porque de pouco adianta
ensinar a uma criança, ou mesmo a um adulto a ler e a escrever se o aluno
estiver doente e mal alimentado.
Mas, apesar da alta carga tributária, nossos
governantes não dormem que é para poder ter mais tempo de criar novos impostos,
ou de transferir para o povo as responsabilidades que lhe cabem. Querem dois
pequenos exemplos? Existe um departamento para cuidar de parques e jardins e
que, normalmente não cuida. O que faz o governo? Oferece o parque, ou o jardim
para que uma empresa privada o apadrinhe. E aí, com o dinheiro do empresário
que já paga imposto, o jardim passa a ser bem cuidado. Outro exemplo: o governo
criou o IPVA, imposto que é pago para quem tem um veículo automotor. O governo
alegou, na época, que esse imposto serviria para abrir novas estradas e
conservar as já existentes. Pois eu, que já viajei muito pelo Brasil garanto
que nossas estradas, apesar de nunca terem sido de primeiro mundo, eram bem
melhores das atuais, após terem sido beneficiadas pelo IPVA. Não satisfeito, o que fez o governo? Ofereceu
as nossas principais estradas para serem administradas por grandes empreiteiras
da construção civil. Agora o contribuinte continua a pagar a alta taxa do IPVA,
mais o pedágio, que além de caro, sofre aumentos bem acima da inflação. E o
pior: estas empresas, como a nossa conhecida Concer, não cumpre o que rege o
contrato e não é penalizada por tal.
Mas nossos governantes precisam se perpetuar
no governo. O negócio, em qualquer esfera governamental, é muito bom. Como
governo, através de uma medida puramente política, eleitoreira, ele cria uma
nova lei fingindo beneficiar a sociedade. Porém, quem paga esse benefício é a
própria sociedade. É pura demagogia com o chapéu alheio. Quem vocês acham que
vai se beneficiar com o novo estatuto criado para a profissão de
“doméstica”? As domésticas? Os patrões,
ou o próprio governo que passará a contar com novos impostos?
É mais do que sabido que é a classe média
quem paga as contas do governo. Mas, para isso, a mulher que é mãe, precisa
trabalhar fora. Agora ela terá duas opções: deixar de trabalhar fora para
cuidar dos filhos, retirando-os do berçário ou da creche que custam caro, ou
continuará a trabalhar apenas para pagar uma babá em tempo integral, que irá
receber todos os benefícios da nova lei. Não é legal? Em países que usam o
dinheiro dos impostos em benefício da população, os berçários e as creches são
de graça. E aqui?
A situação irá mudar por completo. Se antes
a classe média, que já vivia estrangulada, encontrava dificuldade para
conseguir e ter como pagar uma doméstica competente, agora, provavelmente, ela
terá essa doméstica, mas não terá meios para pagar. E quem poderá deixar de se
alimentar em casa, com o que cobram a maior parte de nossos restaurantes? Comer
fora, no Brasil, é um luxo para ser usufruído em determinadas ocasiões
festivas.
A quem o governo pensa que estará
beneficiando com essa nova lei? As domésticas, que embora protegidas pelo PEC,
não conseguirão ser contratadas, ou as donas de casa da classe média que terão
que abandonar seus empregos para cuidar da casa e dos filhos?
Mas, por Deus, não pensem que eu sou contra
as domésticas, não. E estou muito à vontade para falar, já que como patrão
sempre as tratei como seres humanos que realmente são e nunca como escravas.
Jamais precisei de lei governamental para dar folga semanal, férias e décimo
terceiro salário. Entendo que os direitos devem ser iguais para todos.
Entretanto, gente, estamos no Brasil e o Brasil é diferente. Para que a sofrida
classe média possa cumprir a nova lei, será preciso que ela seja também
beneficiada.
Mas não vamos nos desesperar. O Brasil é um
país maravilhoso! Irá sobreviver a mais esta catástrofe administrativa, assim
como a outras leis e impostos descabidos que ainda estão por ser criados. Quem
atravessou dois grandes períodos de ditadura e consegue sobreviver com a
corrupção de nossos políticos e de nossa justiça, de forma pacífica e bem
humorada, sobreviverá. O que não podemos é perder a nova oportunidade de ser
campeões mundiais de futebol em nosso país. Ah, isso não.
Publicada em 17/04/2013 no jornal “Tribuna de Petrópolis”.
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No meu tempo
era melhor
Angelo Romero (Academia
Petropolitana de Letras)
Quando
jovem eu ouvia, vez por outra, minha saudosa mãe dizer: “Ah, no meu tempo isso
era melhor!” Quantos de vocês, jovens leitores, já ouviram essa frase ser dita
por pessoas idosas, hem? Naquelas oportunidades eu ficava irritado com mamãe e
costumava rebater, buscando argumentos para comparar o tempo dela com o meu.
Foi preciso que eu envelhecesse para entender o porquê de ela dizer aquilo. O
tempo ao que ela se referia, ela era jovem e quando se é jovem tudo é melhor:
nossa disposição física, nossa vista, nossa musculatura, nossa saúde, nossa
perspectiva de vida, nossos sonhos e esperanças, nossa memória, etc. Não eram
as coisas que eram melhores, era ela que era melhor. Quando mamãe era jovem
precisava dar corda na vitrola para tocar um disco e a cada disco tinha que
trocar de agulha. O disco era feito de cera de carnaúba e se partia com
facilidade. Imaginem vocês, a qualidade do som. Meu pai mal conseguia ouvir,
diante de tantos chiados, a transmissão radiofônica, dos jogos das primeiras
copas do mundo de futebol. O rádio era grande, pesado e composto por válvulas. Um
tio que não conheci, irmão de mamãe, faleceu em Campos de Jordão, em virtude de
uma tuberculose. Minha avó materna, já bem idosa, cozinhava em fogão à lenha e
precisava colocar carvão no pesado ferro para passar roupa e comprávamos pedra
de gelo para colocar na geladeira. Poucas famílias tinham telefone e ficava-se
mais de ano na fila de espera para se conseguir a instalação de um aparelho. Só
para se ter uma idéia, em relação à comunicação nos tempos de hoje, o número de
aparelhos celulares em uso no Brasil é maior que a população brasileira. Quanto
tempo levava o Correio para entregar uma carta? Hoje, um e-mail chega no
momento seguinte em que é passado. Quantas linhas de texto eu teria que usar
para fazer tantas comparações, hem?
Eu sei que
Frank Sinatra foi e ainda é meu ídolo como cantor e que Michel Teló é o ídolo
de meu neto, e daí? Nem tudo de ontem foi melhor, como nem tudo de hoje é. A
vida é mutante. Nem o pobre quer mais um aparelho de televisão em preto e
branco e de 14
polegadas . Logo a classe média terá TV de 50 polegadas e em 3D.
Se antes o favelado não tinha rádio, nem telefone, hoje tem TV em cores e
celulares. A primeira vez que fui a Recife de avião, o vôo durou doze horas;
hoje vou em quatro.
É
importante que se diga que muito do que hoje é plantado, principalmente nos
campos da ciência e da tecnologia, não é para nosso consumo. Quem irá se
beneficiar será a futura geração.
A grande
maioria dos e-mails que costumam ser repassados, não vale o tempo perdido.
Porém, vez por outra nos chegam e-mails inteligentes e curiosos. Recebi hoje um
desses e-mails que me surpreendeu positivamente. O tema gira sobre passado e
presente, vantagem e desvantagem discutidas entre um jovem e uma senhora idosa
num supermercado. O jovem culpava a geração da tal senhora de não ter tido
preocupação em preservar o verde e cuidar do meio ambiente da terra. Dizia que
a tal senhora deveria ter trazido uma sacola de pano de casa para as compras,
ao invés de usar uma sacola de plástico. Ao que a senhora respondeu:
- Você
está certo. Eu nunca me preocupei com o meio ambiente. No meu tempo não havia
sacolas de plásticos. Aliás, nada do que consumíamos vinha embalado em plásticos. O leite,
os refrigerantes e as cervejas vinham em garrafas de vidro e os cascos vazios
eram trocados e depois reaproveitados pela indústria. Subíamos as escadas movimentando
nossas pernas porque não havia escadas rolantes nos prédios de lojas e
escritórios a consumir energia. Caminhávamos dois a três quarteirões para fazer
compras ao invés de usarmos automóveis de 300 cavalos de potência. As fraudas
não eram descartáveis. Eram de pano que tínhamos que lavar e por para secar,
usando a energia solar e eólica, ao invés das máquinas de lavar com 220 volts.
No meu tempo, tínhamos só um aparelho de TV em casa, ao invés de um aparelho em
cada cômodo. O aparelho era pequeno. Não era um telão enorme que logo terá que
ser descartado e trocado por outro maior. Em cada cômodo existia uma única
tomada, e não um quadro de tomadas para alimentar diversos aparelhos. Na cozinha tínhamos que bater tudo na mão
porque não existiam máquinas elétricas. Quando embalávamos algo frágil para
remeter pelo correio, usávamos jornal velho como proteção, ao invés de plástico
bolha. Fazíamos exercício para cortar nossa grama com cortador manual, ao invés
dos cortadores movidos à gasolina. Como nossos trabalhos caseiros exigiam de
nós grandes exercícios, não precisávamos exercitar nossos músculos nas esteiras
elétricas das academias. Bebíamos diretamente da fonte, em copos de vidro a
água tirada de filtros de barro, ao invés de usar copos e garrafinhas de
plástico. Carregávamos de tinta nossas canetas que durava uma eternidade, ao
invés das atuais canetas que jogamos no lixo quando acaba a tinta. Amolávamos
nossas navalhas, ao invés de usarmos aparelhos de barba descartável logo que
fica sem corte. Nunca precisei usar um GPS para receber sinais de satélites
capazes de nos ajudar a indicar a pizzaria mais próxima. Nossos filhos iam para escola a pé, de bonde,
ou de bicicleta e não usavam a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Muita
coisa mudou, meu jovem, até o respeito pela língua portuguesa. Quer um exemplo?
Meu filho nunca foi vítima de bulling na escola. Quando muito, foi sacaneado
por colegas mais velhos e mais robustos, como a maioria das crianças menores e
mais franzinas foram também. Mais este fato nunca deixou sequelas.
Talvez
por não ter tido necessidade de desmatar nossas florestas como hoje fazem as
indústrias, por não ter poluído os rios com material descartável e o ar, com os
gazes tóxicos dos veículos a motor, eu não tenha me preocupado com o meio
ambiente como deveria.
Entretanto,
vejo que sua geração vive preocupada com o meio ambiente e futuro da terra. É
dignificante! Porém, não creio que consiga viver como vivi em meu tempo, sem os
benefícios tecnológicos atuais que facilitam a vida e promovem um conforto
egoísta, conforte esse que o torna alheio aos problemas que as próximas
gerações terão que enfrentar.
O jovem
ouviu tudo em silêncio respeitoso e nada falou, porque nada teria para dizer.
Publicada em
13/4/2013 no jornal “Tribuna de Petrópolis”.
Os Cinquenta Tons de Cinza
Angelo Romero – Academia Petropolitana de Letras
Seria muito bom se o mundo fosse colorido pelo antigo sistema “technicolor” dos antigos filmes norte-americanos. Se fosse, por exemplo, Petrópolis não apresentaria num único dia os 50 tons de cinzas de seus tradicionais dias nublados. Nos dias ensolarados, que são em menor número, é que podemos constatar como essa cidade é linda!
O cinza, infelizmente, reflete melhor a vida. Não é uma cor pura, definida, autêntica, como deveria ser a raça humana, em sua maioria. O cinza é o preto que ficou desbotado, ou o branco que ficou sujo. Abra os jornais, ligue a TV e se atualize com o que acontece em nossa cidade e no mundo. Para cada boa noticia que possa dignificar o homem, quantas podemos ler falando de guerra, violência, tragédias climáticas, fome, miséria, doenças, desastres, assassinatos, corrupção e etc.
Dia desses, a televisão mostrou uma imagem dolorosa: uma senhora passa mal e desmaia na calçada, bem na porta de um hospital (Clínica ou Casa de Saúde, não importa), administrada pelo Governo. Apesar do dramático apelo de quem a acompanhava, os responsáveis pelo estabelecimento hospitalar alegaram que não podiam atendê-la. Muito tempo se passou, e quando uma alma caridosa resolveu tomar providência, já era tarde demais e a pobre infeliz, que poderia ter sido salva, veio a falecer. Infeliz do brasileiro que hoje não tiver um plano de saúde. E por Deus, não me digam que esse foi um caso isolado porque outros idênticos já aconteceram, principalmente com pessoas idosas e muitos ainda irão acontecer sem que ninguém vá preso. E ainda dizem que nós somos bons. Confunde-se no Brasil bondade com fraqueza moral. Os fatos estão aí para quem quiser ver e provar que, historicamente nunca fomos um povo bom. Precisamos desmistificar essa auréola de quase santidade de nossa raça. Podemos encontrar bondade no ser humano como individuo e aí, sim, em casos isolados. A bondade só desperta na coletividade, quando uma maciça campanha é levada ao povo pelos principais veículos de comunicação. Nossa maldade se fez presente nos primórdios de nosso descobrimento com a matança de nossos silvícolas, os verdadeiros habitantes de nossa terra. Quantos de nós já ficamos estupefatos diante de imagens de vandalismo nos campos de futebol? E mais estupefatos ficamos ao ver com que sadismo nossa polícia atua nesses casos, hem?
Nosso código penal nunca se preocupou em punir com rigor os foras da lei. Se preocupação existe, sempre foi a de favorecer a raia graúda: empresários, juizes, desembargadores, governantes, políticos e etc., que, por um infeliz acaso e ao se colocarem fora da lei, são flagrados, julgados e condenados ao praticar os maias diversos tipos de ilegalidades, poderiam sofrer duras penas, caso o nosso código penal fosse justo. Seria o caso de se dizer: o feitiço virou contra o feiticeiro. Será que alguém acredita em punição para os responsáveis pela construção do estádio do Engenhão? Já imaginaram a proporção da tragédia que aconteceria com o desabamento das marquises num estádio lotado? Estão acompanhando o jogo de empurra para apurar os culpados por uma obra que, apesar de ter sido superfaturada, apresenta graves erros de construção e de material empregado?
Num pequeno paralelo podemos constatar os gastos do governo com as faraônicas obras superfaturadas dos estádios de futebol para a Copa do Mundo e, em contrapartida, o que se tem gasto para salvar os hospitais públicos e repor moradia aos desabrigados pelas chuvas em todo o Brasil, hem?
Enquanto o novo Papa envia ao mundo mensagens de paz, o louco ditador da Coréia do Norte ameaça, não só a Coréia do Sul e os Estados Unidos com uma possível guerra nuclear. A ameaça seria global, pois o mundo não suportaria uma guerra atônica com a potência atual dos artefatos nucleares.
A ilegalidade vence sempre a legalidade em nosso país. O Diretor do Jardim Botânico foi exonerado por defender o verde e a derrubada e desocupação das várias dezenas de casas construídas ilegalmente nos terrenos do Jardim. O que se pode esperar de nossa Justiça? Justiça? Que Justiça? Atentem para o nosso Código Penal. Querem um exemplo? Pois bem, a pena para o criminoso por ter cometido um crime hediondo poderá chegar a 130 anos. Ou seja, por mais tempo do que, provavelmente ele venha a ter de vida. Porém, por mais hediondo que seja o crime, a pena máxima permitida (não sei se estou errado) é de 30 anos. Mas, por bom comportamento ele poderá ser libertado depois de cumprir um terço da pena. Quantos desses criminosos voltaram às ruas para cometer outros tipos de crime, hem? Já leram sobre isso?
Nos romances policiais ingleses o suspeito é sempre o mordomo; já em nossa Justiça o maior suspeito do crime é a vítima.
E por falar nos 50 tons de cinza, que colorem o Brasil e, porque não dizer, o mundo, não gaste seu dinheiro para comprar esse livro. Dos mais de mil romances que li, esse foi, disparadamente o pior. E não falo por ser imoral, pois que não sou daqueles que tem falso pudor. Julgo e opino por entender que o texto é de mau gosto e mal escrito.
E, afinal, para mim o sexo nunca foi imoral. Imoral é a política.
Publicada em
06/4/2013 no jornal “Tribuna de Petrópolis”.
Cultura ou inteligência?
Angelo Romero (Academia
Petropolitana de Letras)
A maioria
das pessoas costuma confundir cultura com inteligência. Eu conheci algumas
pessoas, e não vou citar nomes, possuidoras de uma cultura de fazer inveja,
porém, com inteligência limitadíssima. Por outro lado, conheço pessoas
super-inteligentes, com limitada cultura. Ouso dizer que, em termos
estatísticos em relação à população mundial, existe apenas uma ínfima parcela de
privilegiados possuidores dos dois requisitos. Esses, na maioria dos casos,
conseguem fama e fortuna. No entanto, em termos de sucesso financeiro, é bem
mais fácil encontrar uma pessoa inculta, mas com inteligência prática, do que
uma pessoa apenas culta. A cultura
desacompanhada da inteligência prática se torna um fator inibidor para a
fortuna. Quando muito poderá proporcionar respeito e reconhecimento público,
valores que, infelizmente, não são negociáveis no mercado.
Comecei a
entender o ser humano desta forma, ainda na minha adolescência quando conheci
duas irmãs, primas de segundo grau. A mais jovem formou-se em advocacia como
primeira da turma. Cultíssima, embora pobre. A outra, semi-analfabeta, mas com
uma inteligência prática notável, enriqueceu numa época em que contrabandear
mercadorias entre o Brasil e a Argentina era um grande negócio. Durante as
festas que costumava dar em sua mansão em Copacabana, destacava-se com sua esfuziante
alegria, simpatia e alto poder de comunicação, enquanto a irmã, que mal abria a
boca, passava a impressão de ser a analfabeta da família.
Para
exemplificar melhor minha tese, vou citar dois nomes consagrados em que apenas
a privilegiada inteligência prática foi decisiva para proporcionar fama e
fortuna: Sylvio Santos e o saudoso Carlos Imperial. O Sylvio começou sua
fortuna ao lançar na praça o famoso carnê do Baú. O carnê funcionava assim:
você comprava um bloco com determinado número de folhas e o valor da
mensalidade igual em cada folha. O pagamento era feito mensalmente nas Lojas do
Baú, correspondente ao mês e autenticação ficava no canhoto, preso ao bloco do
carnê. O que atraia o comprador era a possibilidade dele ser sorteado antes de
completar o pagamento inteiro do carnê. Caso o cliente não fosse sorteado ele
não perderia o dinheiro empregado. Trocaria por mercadoria nas lojas do Baú o
valor total correspondente a todas as mensalidades pagas. Para o Sylvio o
sistema era uma forma de corrente: ele aplicava o dinheiro das mensalidades,
obtinha os juros e ainda se beneficiava com a desvalorização do dinheiro e
venda das mercadorias. Para completar, ele trocava o valor total pago, por uma
mercadoria de qualidade inferior e ao preço maior do mercado que as lojas
concorrentes ofereciam. O mais interessante desta história foi que não foi o
Sylvio quem inventou este sistema, foi Peter Kellemen, um húngaro trambiqueiro
que, pouco tempo depois de ter emigrado para o Brasil, deu um grande golpe na
praça com o seu famoso “Carnê Fartura”. O sistema era idêntico ao do Baú, com
uma pequena diferença: Peter entregou algumas poucas mercadorias (automóveis,
casas, televisão) aos primeiros sorteados e depois não entregou mais nada. E
antes de ser preso, escafedeu-se do Brasil e foi morar no Paraguai.
Já
Carlos Imperial foi um dos maiores gênios da mídia. Ele foi tudo, em ter sido
nada. Projetou-se como dançarino de Rock in Roll, e mal sabia dançar. Foi
compositor de sucesso, sem saber música. Foi ator de cinema, sem saber
representar. Foi produtor de teatro, sem conhecer a nobre arte.
E como isso foi possível? Fácil. Imperial possuía um
extraordinário faro para o sucesso. Onde quer que colocasse a mão, transformava
em ouro. Foi
o maior descobridor de talentos que o Brasil já conheceu. Roberto Carlos que
engatinhava, foi ajudado a correr em direção do sucesso por Carlos Imperial.
Wilson Simonal, que era seu motorista, foi transformado em ídolo nacional da
noite para o dia por Imperial, e muitos outros artistas de menor expressão,
levados por Imperial, tiveram algum tempo de fama, como, por exemplo, Roney Von,
o príncipe da “jovem guarda”.
Carlos
Imperial era noticiado diariamente pelos principais órgãos de nossa imprensa.
Este foi um de seus maiores segredos: criar situações para ser notícia.
Certa ocasião, próximo de um carnaval, Imperial ficou uma semana sem ler
ou ouvir da mídia nada a seu respeito. Nem uma notinha, nem um retrato, nem sua
voz gravada. Ficou arrasado. O que fez ele? Hospedou-se por uma semana numa
suíte do Copacabana Palace Hotel e ficou incomunicável. Não disse a ninguém
onde estava. Nem na janela da suíte ele colocava a cara. Era o tempo em que o
Teatro Municipal do Rio de Janeiro apresentava o mais famoso baile carnavalesco
das segundas-feiras. Era baile para a classe “A”, autoridades e astros
internacionais. O ponto alto do baile eram os prêmios para as fantasias de
luxo, ou de originalidade. Era o momento em que os “homens delicados” saiam do
armário para exibir suas vaidades, concorrendo, principalmente, na categoria de
luxo. Vencer o concurso e ser capa das principais revistas do país sempre foi,
para “eles”, a maior glória! Pois bem, na semana do carnaval, Imperial
telefonou para os principais órgãos de nossa imprensa, convidando-os para entrevistá-los
na suíte em que estava hospedado, pois tinha uma declaração bombástica para dar.
No dia seguinte à entrevista, todos os jornais e revistas do país publicaram
sua declaração: “eu serei o primeiro HOMEM a participar como concorrente ao
desfile do baile do Teatro Municipal”. E o mais interessante: com sua fantasia
“Borboleta Esvoaçante” ganhou o maior prêmio na categoria originalidade.
Durante um curto período de minha vida fui
assessor artístico de Carlos Imperial. Como não possuo inteligência prática,
trabalhei sem ser pago, mas aprendi muito com ele. Na verdade, posso afirmar
que foi Imperial a pessoa mais inteligente que conheci. Um pequeno gênio! Certa
ocasião elaborei um projeto para o seu programa de televisão, projeto esse que
me custou tempo e muito trabalho. Para minha surpresa, Carlos Imperial não o aprovou,
e como eu estava há vários meses sem receber, rompi com ele. Entretanto, antes
de deixar a tal reunião, Imperial teceu grandes elogios à minha pessoa, mas me
garantiu que se eu não seguisse os dez itens da cartilha que ele acabara de
elaborar para mim e que eu tenho comigo até hoje, eu jamais obteria sucesso
financeiro. Num dos itens ele afirmava
que todo ser humano merece uma oportunidade; alguns poucos, duas. Mas que
ninguém, ninguém poderia ser merecedor de três oportunidades. Imediatamente eu
discordei. Ao exemplificar minha discordância citei um consagrado nome das
artes, que fôra vítima de dois fracassos consecutivos em projetos de sua
autoria. Mas a tal pessoa era considerada um gênio pela crítica especializada.
Será que ele não mereceria a terceira oportunidade? – perguntei. Não –
respondeu Imperial e completou: nesse caso, pouco importa que seja um gênio,
porque o que conta é que é uma pessoa azarada.
Como
não segui a cartilha que Carlos Imperial fez para mim, e como não consegui
sucesso financeiro até hoje, achei que ele estava com a razão. Entretanto, os
dias atuais estão aí para comprovar que só a matemática é infalível. Fora ela,
não existe regra perfeita, nem fórmulas milagrosas e que alguns seres humanos,
poucos, é bem verdade, podem ter três oportunidades. Está aí o nosso prefeito
Rubens Bomtempo para comprovar que eu tenho razão. O que fez ele, por exemplo,
pela saúde em seus dois anteriores mandatos? Pouco ou quase nada, não é
verdade? No entanto, temos que reconhecer que suas primeiras medidas na
tentativa de livrar a cidade do caos, me pareceram acertadas. Principalmente
com relação à saúde, ao nomear um homem sério e competente para Secretário. Um
governo, qualquer governo, só obtém sucesso se evitar nomeações eminentemente
políticas para ministérios ou secretarias de importância vital para o Estado.
De nada adianta um bom administrador se ele não tiver uma excelente e
capacitada equipe de colaboradores. Só espero e desejo é que o nosso atual
prefeito venha a comprovar esta boa impressão que ele está me passando ao
concluir seu mandato. E tenho dito.
Publicada em
10/3/2013 no jornal “Tribuna de Petrópolis”.
SEM TÍTULO
Angelo Romero
Abelardo Romero, meu saudoso pai, jornalista,
poeta e historiador, certa ocasião me aconselhou: “Se você deseja mesmo ser
escritor, vou lhe dar alguns conselhos – escreva diariamente se possível e leia
os grandes autores. Jamais comece a escrever, seja crônica, conto, romance,
poema ou teatro, sem que tenha o final delineado. Lembre-se de que o título da
obra é de vital importância. Deve ser original, sugestivo, impactante, etc.”.
A partir de seus conselhos sempre procurei
ler e escrever diariamente, procurando usar títulos sugestivos para meus
textos. Entretanto, creio que esta matéria é a primeira que escrevo sem saber
como irei terminá-la. Possuo um arquivo só de títulos para as minhas criações.
Rebusquei-o e não encontrei um título adequado. Talvez até por não saber sobre
o que escrever e, principalmente, como concluir. Por incrível que possa
parecer, penso que se fosse obrigado a escrever uma crônica diária, encontraria
mais facilidade, já que assunto é o que não falta.
Durante
trinta dias coleciono assuntos num outro arquivo, preocupando-me em encontrar
um título correspondente. Há anos que possuo uma assinatura de determinado
jornal e após o café da manhã e do primeiro cigarro sento-me para lê-lo. Se
contabilizarmos duas interessantes matérias em cada exemplar, que é o que
normalmente encontramos, vamos ter, em média, ao final de trinta dias, sessenta
assuntos e escolher um deles para abordar na crônica do mês. E é aí que reside o problema: qual assunto
escolher? Só a palavra “Bullying” já daria uma matéria. Entretanto, para isso e
para maior consistência do texto eu teria que juntar ao “bullying” uma outra
infinidade de palavras em inglês que, lamentavelmente, o espírito “vira-latas
do subdesenvolvido povo brasileiro”, como diria o saudoso cronista Nelson
Rodrigues, incorporou à nossa língua e são usadas, com frequência, em nosso dia
a dia para nomear os mais diversos assuntos e produtos.
Eu mesmo sou um “vira-lata”, pois ao invés de
titular o “fanzine que criei de “Carlito’s Notícias”, eu o intitulei de
“Carlito’s News”. Mas, eu sou brasileiro e apesar de muito de nossos políticos
e juízes, orgulho-me de nossa língua.
Por ter sido esquelético na infância e parte
da adolescência, fui muito “sacaneado” pelos colegas de escola e ganhei vários
apelidos pejorativos. Porém, felizmente, jamais fui vítima do tal “bulling”.
Outro assunto que poderia explorar é a tal da
obrigatoriedade de um número de cotas para negros em nossas universidades, lei
aprovada por nossos “escravagistas” deputados. Meu Deus! É o tipo de notícia
que você lê e não acredita no que está lendo. A princesa Isabel deve estar
dando cambalhotas em seu túmulo. Quando temos a oportunidade de tentar
eliminar, por completo, o racismo no Brasil, retrocedemos.
Eu até
entendo nossos políticos. Pagar um salário digno aos nossos professores,
melhorar a qualidade do ensino, reaparelhando nossas escolas e construindo
novas universidades públicas para que possamos dar mais oportunidade aos nossos
estudantes por mérito e não por cor, é muito oneroso para o Governo. Já uma lei
esdrúxula e eleitoreira não custa nada. Ou melhor, custa a vergonha que
sentimos por ter colocado, com nosso voto, tais legisladores.
Poderia
falar também de Eduardo Paes, o prefeito do Rio, que quer demolir o elevado da
Perimetral, por uma questão de estética. Das duas, uma: ou ele é louco de pedra,
corrupto ou as duas coisas o que é mais provável. Os milhões que serão gastos
na demolição e na construção de túneis onde, provavelmente, ficarão submersos
com as chuvas, escuro com os apagões e onde os infelizes motoristas estarão à
mercê dos assaltantes. Creio que os tais milhões poderiam ser empregados nos
hospitais e escolas da Cidade, que estão em situação calamitosa.
A
população sofrerá com esse descalabro, principalmente quem chega ao Rio, vindo
das cidades serranas, como nós, petropolitanos, já que com o elevado podemos
atingir o coração do Rio, sem atravessarmos as artérias do centro da cidade. Na
certa, novas construtoras do tipo da “Delta”, surgirão para superfaturar a obra
e oferecer um percentual aos governantes. Esta obra, guardando suas proporções,
me fez lembrar de um ex-prefeito de Petrópolis que estreitou as ruas do centro,
privilegiando o pedestre, numa cidade de trânsito caótico, em que o número de
automóveis, “per capita”, é um dos maiores do país.
Felizes
são os editores de nossos jornais e revistas por ter, no mínimo, uma matéria
escabrosa sobre corrupção, suborno e falcatruas diariamente para publicar. E
nem bem um assunto foi explorado até a sua solução, já outro, mais escabroso
ainda, passa a ser denunciado.
O
Brasil é um país privilegiado, pois enquanto o resto do mundo se preocupa com a
possível falta de água potável no futuro, nós damos boas gargalhadas. Afinal,
nós somos ou não somos o país “dos Cachoeiras”? As CPIs, que só servem para
pagar sessões extras aos nossos parlamentares, mal dá tempo para que eles
possam promulgar novas leis em benefício do povo. E, quando sobra um tempinho, eles
criam a lei de cotas para os negros. Mas o Brasil, mal comparando, é como o
Clube de Regatas do Flamengo: será sempre grande e querido, apesar de suas
incompetentes e corruptas diretorias e de políticos idem.
Esta crônica
foi publicada em 09/03/2012 no jornal “Tribuna de Petrópolis”.
O Sexo dos Coelhos
Angelo Romero
Eu não paro, pois, na minha idade se
parar o pijama me veste e a terra me cobre. Mas, o Brasil parou. Chegou o carnaval.
Quando eu era jovem o festejo momesco começava às vinte e duas horas do sábado.
Hoje é quase o mês todo. Vi um sujeito na avenida fantasiado de palhaço,
falando a um smartphone. Uma imagem de certa forma contrastante e que merecia
uma foto. Poderia até ser um verdadeiro palhaço, mesmo que não estivesse assim
vestido. Porém, bobo é que não era. Estava conectado com a vida atual. Há muito
que percebi a grande transformação do mundo a partir do invento:
computador-internet. E é como sempre apregoou o visionário Chacrinha: “Quem não
se comunica, se trumbica”.
O
telefone, o telegrama, a carta, o cartão de natal e até os encontros com os
amigos nas esquinas e nos bares da vida estão perdendo cada vez mais espaço. Estamos
na época das tartarugas. Vivemos cada vez mais reclusos em nossas casas, diante
da tela do computador. Mas não existe nada no mundo em que tenhamos apenas
benefícios. Até o sexo. Para isso é que existem, em contrapartida, as doenças venéreas
a sífilis e o HIV. Através do e-mail o calor humano nos chega de forma
requentada. Sem a letra do próprio punho, sem a voz e a imagem da pessoa querida
que esteja distante, obtemos uma comunicação fria, embora imediata e econômica.
Quando estou na minha varanda olhando a
rua e vejo uma pessoa passar desacompanhada, falando alto e não percebo o
danado do aparelhinho fico sem saber se a pessoa é maluca, ou se está querendo
falar comigo.
Muitas pessoas que já tinham celulares passaram
a carregar verdadeiros computadores de bolso e não param de acessar e falar a
qualquer hora e em qualquer lugar. Ouvir alguém falar ao celular dentro de um
elevador lotado me irrita. Tem gente que, por pura vaidade, fala alto através
do aparelhinho, dentro do elevador, de um ônibus ou até mesmo na rua, tratando de
grandes negócios para se mostrar importante. Creio até que em alguns casos o celular
esteja desligado e que a conversa não passe de puro teatro para nos
impressionar.
A verdade é que estamos perdendo alguns de
nossos valores como seres humanos, nossa individualidade e privacidade.
“Sorria! Você está sendo filmado” – diz o cartaz ao lado da câmera. Sim, hoje
existem dezenas, centenas e milhares de olhos a nos vigiar os passos.
Disse o saudoso humorista José
Vasconsellos em um de seus espetáculos: “Renovar, ou morrer. Vamos renovar”.
Eu, para não morrer, resolvi participar, mesmo que a contragosto, dessa nova
era, desse mundo cibernético para que não me chamem de velho gagá e
ultrapassado. Mas não vou deixar de enviar um cartãozinho de natal para meus
principais amigos e de dar um telefonema parabenizando-os pelo aniversário.
Espero guardar em mim um pouco da criança que no passado fui e do ser humano
que gostaria de continuar sendo. Mas sei que agindo assim mantenho um pé no
mundo que já não mais existe e que hoje o tempo, em sua velocidade nos espanta
e nos faz lembrar de antiga anedota. Sim, breve estaremos agindo e falando como
a fantasiosa conversa entre um casal de coelhos, em que o macho perguntou para
a fêmea: “Sexo é bom, não foi?”.
Esta crônica foi publicada em 26/02/2013 no jornal “Tribuna de Petrópolis”.
Feliz idade?
Angelo Romero
Filosofando sobre a vida ouvi várias vezes, tanto
meu pai, quando minha mãe, pronunciar uma frase curta, porém, profunda: “a
velhice é uma merda!” Como eu poderia, com grande vigor físico, alimentando
sonhos, cercado de amantes, amigos e tendo energia suficiente para vencer os
obstáculos que a vida oferece entender uma frase assim? “O tempo é o melhor de
todos os mestres, só que termina matando todos os seus discípulos”, filosofou
Lair Ribeiro. E o tempo me ensinou o significado da tal frase, repetida tantas
vezes por meus pais.
Sei que esta crônica vai levantar muita polêmica
entre os meus 15 leitores. Não importa. Como escritor, costumo me realizar
quando trato de assuntos polêmicos. E, por Deus, não digam que estou amargo.
Amargo é o jiló e, mesmo assim têm muitos adeptos.
Para as
primeiras peças de teatro que escrevi coloquei vários personagens jovens.
Esqueci que minha juventude foi passada em outros tempos, tempo em que a
importância da palavra empenhada, o compromisso, a pontualidade e a
responsabilidade eram passadas de pais para filhos. Resultado: não consegui
representar as peças devido às desistências, faltas e atrasos durante os
ensaios.
Lembrei de colocar em minhas novas peças,
personagens com idade avançada que, naturalmente, defendidas por atores com
idades próximas a minha, oriundos da educação que recebi, teriam mais
responsabilidade. Quanto a isto, não me enganei. Mas aí surgiram problemas para
os quais eu ainda não havia pensado. Os problemas com falta, atraso e até
desistência continuaram, só que por outros motivos: enxaqueca, dores das mais
diversas, pressão arterial, filhos descasados e netos carentes.
Devido ao novo tipo de problema, vivo mergulhado em
dúvidas: não sei se paro com o teatro, ou se passo a escrever apenas monologo,
ou seja, texto para um único ator: EU. Se decidir pela segunda fórmula, sei que
correrei menor risco. Afinal, devido a minha idade, não estarei livre de um
repentino problema com a saúde e, se for grave, poderei faltar à estréia.
Não me conformo com o destino imposto ao homem a
partir de seu nascimento. Por mim, haveria uma inversão em sua concepção: o
homem nasceria aos 100 anos de idade e se sua morte fosse de causa natural,
morreria como bebê, em seu primeiro dia de vida. De certa forma, haveria certas
semelhanças: a criança, assim como o idoso, mereceria maiores cuidados: não se
alimentaria nem tomaria banho sozinho, estaria protegido por fralda para não
sujar a roupa e a cama a toda hora, viveria se babando e seria careca, sem
dente e desmemoriado. E o mais importante: não saberia ainda a importância do
sexo para a vida.
Ah – diriam vocês, mas o idoso é sábio, rico de
conhecimentos e experiência de vida. E daí?
Para que irá lhe servir tanto conhecimento, tanta experiência e
sabedoria, se já não tem energia para usá-las. A criança não pratica o sexo por
inocência; já o idoso, por pura incompetência. E sabendo da importância do sexo
para a saúde e para a vida de uma maneira geral, revolta-se e morre
inconformado.
De minha parte, garanto: preferiria morrer inocente,
alheio as experiências adquiridas durante a vida e com total ignorância sobre
sexo. Só assim eu não sentiria revolta de deixar este mundo, cercado por
enfermeiras e babás gostosas!
Publicada em
01/2/2011 no jornal “Tribuna de Petrópolis”.
Questão de Estilo
Angelo Romero
O artista, de um modo geral,
além de esperar ser compreendido e admirado busca, antes de tudo, encontrar um
estilo próprio. Se for esse seu principal objetivo, ele sabe que esta luta terá
que ser diária e na maioria das vezes, inglória. E porque será que essa busca
terá que ser constante? Porque ele sabe que a fama e a consagração vêm atreladas
à descoberta de um estilo próprio, característico e evidenciado em sua forma de
pintar, de escrever e etc. Na pintura, principalmente, a questão de estilo
(traço e cores) se manifesta com maior evidência. Um quadro pintado por Van Gogh,
por exemplo, dispensa assinatura. Se não
foi pintado por ele, foi por um copiador de seu estilo. Uma peça teatral de
Nelson Rodrigues, não requer assinatura. Seu estilo é inconfundível. Assim é um
romance de José Saramago. Em suma: não conheço um artista genial que não tenha
encontrado seu próprio estilo. Certa ocasião estava eu ouvindo uma composição
musical que não conhecia, através de um programa de rádio e comentei com minha
mulher: - É o estilo de Chico Buarque. Ao final da música, o locutor anunciou o
nome do autor – Chico Buarque.
Só existem duas expressões
de arte que, apesar de respeitar, não me emocionam: escultura e balé clássico.
E não sei dizer por que. Nas demais, além de admirar, procuro participar. Na
literatura, por exemplo, admiro o romance, a poesia, o teatro, o conto e a
crônica. Entre os cronistas, meus preferidos são: Luis Fernando Veríssimo,
Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Antônio Maria, Carlos Eduardo Novaes,
Abelardo Romero (meu pai) e Sergio Porto, também conhecido como Stanislaw Ponte
Preta. Entre tantos, Stanislaw sempre foi o meu favorito. Consigo me
identificar melhor com seu estilo: um cronista crítico do cotidiano e da
sociedade de um modo geral, que, com fino humor, tratava dos mais sérios temas.
E, mais importante: corajoso. Foi um dos mais censurados nos duros anos de
ditadura. Posso mesmo crer que tenha sido ele indiretamente assassinado pela
ditadura, pois, como era cardíaco, morreu dias após sua última detenção, quando
foi duramente espancado pelos gorilas da época. Assim, além de ter sido meu
preferido cronista, tornou-se meu herói. Possuo quatro álbuns com recortes de
suas crônicas publicadas nos jornais do Rio. Dentre centenas, lembro-me de uma
que me fez rir bastante. Falava sobre o constante roubo de peças de bronze das
estátuas dos grandes vultos de nossa história, expostas em praças públicas. A
crônica mantem-se atual, pois os roubos continuam. Stanislaw concluiu a crônica
dizendo que, pelo andar da carruagem, ainda iriam roubar o cavalo do Marechal
Duque de Caxias, patrono do exército e ele, montado no ar, passaria a ser
considerado o patrono da aviação.
Durante as intermináveis
obras para a instalação do Metrô do Rio, a maioria das estátuas foi recolhida
ao depósito público. Concluídas as obras, as estátuas retornaram ao pedestal de
origem. Porém, por um erro que se tornou cômico, a estátua do herói Tiradentes
foi parar na Praça XV e na Praça Tiradentes colocaram a estátua do Marechal
Deodoro. Na ocasião eu compus uma música satírica que acabou não sendo gravada
e que dizia em sua letra: “Tiraram a estátua do herói de lá, trocaram a estátua
do herói daqui, botaram uma estátua de um herói pra cá, sumiram com a estátua
que só faz pipi. São obras, são reformas, remodelação. É a busca do progresso
contra a tradição. Se um dia eu for famoso um favor eu peço: não quero ser
estátua, não sou objeto. Se eu não me conformo de ter que morrer, pior depois
de morto é desaparecer”.
Dia desses “Les Partisans”
noticiou sobre o mau estado de algumas das estátuas que estão nas praças da
Cidade e tudo que aqui está escrito tem como finalidade mandar um recado ao
nosso futuro prefeito: que, em sinal de respeito, dê uma maior atenção aos
grandes vultos de nossa história, expostos em nossas Praças Públicas.
Do jeito que a maioria está, ao invés de estarmos rendendo homenagem, estamos
prestando um desserviço.
Obs.
Esta crônica foi publicada em 24/10/2012
no jornal “Tribuna de Petrópolis”.
Caro Angelo, como escritor, eu ainda não me considero um cronista, mas como leitor, sou um apreciador, pelo fato de ser uma leitura agradável e envolvente. Em relação as suas, como tudo que escreves, são abrangentes e ricas em detalhes. Um destaque para a “Cultura ou inteligência?”, pela relevância do tema e pela forma como você abordou.
ResponderExcluirUm abraço de seu leitor assíduo, com o meu apreço!