"VERSO
& REVERSO" foi
meu segundo livro de poemas, publicado em 2002. Selecionei
40 poemas escritos durante a minha segunda década de poesia, quando então minha
idade variava entre 22 e 31 anos.
SEMPRE
CRIANÇA
Quando
sinto que não vou ver
o
que gostaria de ver,
olho
para uma criança.
Quando
sinto que não vou fazer
o
que gostaria de fazer,
olho
para um criança.
Quando
sinto que o tempo é curto,
para
uma longa caminhada,
vou
visitar minha mãe.
Filho
é sempre criança.
O
CIRCO
Dois
sorrisos diferentes
na
boca de uma cidade:
- o
sorriso da inocência
e o
sorriso da saudade.
PÁSSARO
CATIVO
Já
fui pássaro,
livre
pássaro!
Lutava
para comer,
mas
cantava livremente
meu
canto de liberdade.
Hoje,
pássaro
de gaiola.
Meus
donos me dão de comer:
tudo
do bom, do melhor,
e
eu canto para eles
meu
canto prisioneiro.
VAIDADE
-
Por que um prato de frutas
de cera,
se
existe fome?
Melhor
um
estômago forte
que
a vaidade
a
vida inteira.
NINGUÉM
MORRE DE UMA VEZ
Eu
morro em cada recordação,
em
cada decepção
e
em toda vez que digo adeus.
Morro
sempre quando passo
nos
lugares que vivi,
que
conheci.
Sempre
morro recordando
os
amores que perdi.
Ninguém
morre de repente.
Nas
ausências tão sentidas,
nas
esperanças perdidas,
nós
morremos
lentamente.
VALORES
Disse
o velho marinheiro
para
a sereia do mar:
-
Se não fosse pela calda,
serias
mulher perfeita!
Lhe
respondeu a sereia,
rainha,
dona do mar:
-
És um velho marinheiro.
Não
mereces elogio.
Serias
homem perfeito,
fosse
o dono do navio.
UM
DIA NA VIDA
Nós
temos vários dias
em
nossa vida.
O
cravo só tem um:
- o
dia em que está na lapela
de
black-tie,
ou
na mão de uma namorada.
DEDICATÓRIA
Quando
estiver branco o teu cabelo
e
desbotada esta linha,
lembra:
-
Quando a escrevi, julgava-me teu;
quando
a leste, julgavas-te minha.
Obedecendo
a ordem cronológica, do livro mais recente com meus poemas, com este
"Desencontro Pessoal" que foi meu terceiro livro publicado (2007).
Estes
poemas foram escritos em minha terceira década de poesia (entre os anos de 1968
e 1977.
DESENCONTRO
PONTUAL
Quando
tudo da certo,
a
palavra é substituídapelo gesto.
O
olhar fala sem tropeçar
e
as caríciaspõem boca nas mãos.
O silêncio é barulhento
e complexo
na hora do sexo.
Mas, quando o amor acaba
e os gestos emudecem,
muito se tem a dizer, ou calar.
A
palavra falada, esclarece,
mas
fere a alma carente.Explicar o inexplicável não convence.
Um
encontro é marcado
com
fria antecedênciade crime premeditado.
Havia
urgência, e daí?
Você
não foi,não fui também.
E
afinal,
por
que chorarum desencontro pontual?
PRISIONEIRO
Quando
ao teu lado
me
entrego,quero ser prisioneiro,
cativo de teu olhar.
Quando
liberto
e
distante,sou pássaro de gaiola
que já não sabe voar.
ÊXTASE
Não
importa
o
que passamos,nem o que vamos passar.
Hoje, juntos,
nós estamos
de mãos dadas
para amar.
E
na selva
do
meu peitoabrirás novos caminhos.
Nele quero ver
teus dedos,
desfilando
de mansinho.
Hoje
vou deter o tempo
para
te deixar passar.Jogo a vida
nos segundos
do êxtase de nosso amor:
- deflorando teu sorriso,
eu liberto minha dor.
FRIA
MASSA
Despe
e veste a vaidade
no
corpo feito de massa.Sem alma, sem coração.
Os olhos sem expressão: -
frios, fixos, estáticos.
Pintados, porém sem brilho.
Assim é você, pra mim.
Não passa de um manequim.
RODA
GICANTE
em movimento constante,
constantemente inconstante;
eternamente girando.
Mostra
sempre, em vários ângulos,
paisagem
repetida.O retorno à minha origem,
é meu lugar de partida.
ÚLTIMA
IMAGEM
Teria
que ser casa,
rica
ou pobre,não importa.
Mas terra, piso, chão.
Teria que ser sob o alpendre:
parreira, ou maracujá, não importa.
Teria que ser caramanchão.
Teria
que ser na rede,
bordada
ou pintada,não importa.
Mas rede tecida a mão.
Teria que ser noite,
cedo ou tarde,
não importa.
Mas a luz da lua ou lampião.
Teria que ter música,
alegre ou triste,
não importa.
Mas dedilhadas nas cordas de um violão.
Teria
que ser você,
num
minuto ou para sempre,não importa.
Mas só você, com seu amor, com seu perdão.
Imagem do Google
Poema
que fará parte do meu sexto livro de poemas "EXÍLIO NA SERRA", que será
publicado ainda este ano.
DIQUE SECO
Em
meu peito tenho um barco
que
nunca ponho no mar.
Carregando
antigos sonhos,
que
esperam navegar,
na
pulsação de meu peito,
longe
das ondas do mar.
Dos
fortes ventos alísios,
que
fazem a onda encrespar,
protejo
os sonhos do tempo,
evitando
as calmarias
e
alimentando os projetos
que
não me deixam encalhar.
Em
meu peito tenho um barco
que
desconhece o oceano.
Dias,
noites, mês e ano,
faço
de mim passageiro.
Se
o dia vive com pressa,
a
noite, passa ligeiro.
Sempre
acordo renovado,
criando
um novo projeto.
Desperto,
faço do sonho,
se
tornar realidade,
fortalecendo
o desejo,
pra
não chorar de saudade.
Em
meu peito guardo um barco,
onde
navega a lembrança,
guardando
a minha verdade,
que
conheci na infância,
reencontrando
os amigos,
perdidos
na mocidade.
Naufragando
em terra firme,
preso
ao barco, vou menino,
numa
viagem sem volta,
recostado
na amurada,
levado
pelo destino
pra
derradeira morada.
Petrópolis,
madrugada do dia 18 de julho de 2013
Angelo
Romero
Poemas
de meu quarto livro de poesia,
"Trilhos Sob o Asfalto", publicado em
2011
TRILHOS
SOB O ASFALTO
Derrubaram
a casa
e
cortaram a rua
para
abrir uma avenida.
Velozes
automóveis
atropelam
meu passadono quarto onde nasci.
Refletores
iluminam
o
palco de minha infância.São faróis dos carros
que, apressados,
procuram uma criança perdida
nos escombros das lembranças.
Fumaça
e neblina se misturam
às
estridentes buzinaspara me acordar do sonho
com os olhos vermelhos.
Sangraram a rua para abrir uma avenida
e em meu peito, uma ferida.
Descasco
o verniz
para
encontrar a madeiraem sua forma mais pura.
Removo
o negro piche das ruas
em
busca de meu passadonos trilhos sob o asfalto.
TERRA
MÃE
Colhi
fruta saborosa,
com
sabor já esquecido,de uma árvores frondosa,
filha da terra,
mãe pródiga
e de pai desconhecido.
RARIDADE
Eu
procurei a verdade
nos
livros que folheei.Eu procurei a bondade
nos templos que visitei.
Mas,
juro que,
felicidade,eu jamais a procurei.
Quem
a tem,
não
vende ou empresta;não negocia, não dá.
Felicidade
é artigo
muito
difícil de achar.Quem a tem,
guarda-a tão bem,
que nunca sabe onde está.
O
BANHO
Dos
tempos idos e vividos,
pra
vida que levo agora,as lembranças me separam
por uma longa distância.
Para um corpo carcomido,
que tem pele ressecada,
mergulho no meu passado,
pra vir banhado de infância.
TEMPO
E VIDA
Deito
a galinha,
saem
os pintos.Chupo laranjas,
ouço canários
nos galhos da laranjeira
com seu canto álacre.
Tomo da enxada
para abrir a vala
e depois tomo da pena
para escrever poemas.
Com
um pouco de tudo,
vai-se
vivendo:galinha, pintos, laranjas,
hortas e poemas.
O tempo engana:
- é rio caudaloso
que corre cheio,
mas, em minhas mãos,
escorre
por entre os dedos.
O
tempo é curto,
mas
tem pernas longas.Ao invés de mim,
mantém a mocidade
ao longo da vida.
Como uma criança
a sorrir por inocência,
o tempo sorri por sua eternidade.
Não há melancolia, nem monotonia
no ápice da simplicidade,
O tempo é o patrão da vida.
É ele quem determina
sua brevidade.
Se o tempo passa por mim
em disparada,
corra atrás
para aproveitar a vida.
Para não vê-la morrer
estagnada.
TEMPO
& ESPAÇO
é o inexcedível tempo:
- são projetos arquivados
pra ontem realizar.
Tantos
sonhos não sonhados
insistem
em me perturbar,tantos livros começados
que não consigo acabar.
Tanto
espaço pra correr
sem
pernas pra caminhar.Vai daí o meu lamento:
- angústia que não tem fim -
Tanta
coisa pra fazer
na
exiguidade do tempo,pra chegar ao entendimento:
- não caibo dentro de mim.
O
autor aceita encomenda do presente livro, através do e-mail: angelolrdantas@compuland.com.br
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Inatingível". O livro reúne poemas compostos entre os anos de 1988 e 1997.
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O Possível Inatingível
Viajamos
na janela
e
o que vemos é igual.
O
que a você preocupa,
para
mim é natural.
Pra
você, tudo é passado.
Para
mim, tudo é presente.
Se
a imagem é repetida,
eu
a vejo diferente.
Estamos
no mesmo trem,
trilhando
o mesmo caminho.
Correndo
no mesmo trilho.
Você
chegando, eu partindo.
Em
vagões equidistantes,
com
destinos divergentes:
-
Diferente conteúdo
em
igual recipiente.
Jamais
se misturarão,
na
trepidação inclemente,
muito
embora fiquem juntos,
lado
a lado, eternamente.
Meu Rio
Eu
tenho meu próprio rio
onde
vou pescar a vida.
Mergulho
em águas profundas
de
minha infância esquecida.
Tenho
águas cristalinas
e
águas turvas também.
Nas
turvas não me encontro,
esqueço
o que me convém.
Meu
rio tem muito peixe
que
não consigo pescar.
A
sorte é peixe matreiro:
Muda
sempre de lugar.
Minha
canoa é pequena.
Não
aprendi a nadar,
num
rio que corre cheio,
mas
que não sai do lugar.
Circula
em torno de mim
este
rio caudaloso.
Por
não ter começo ou fim,
se
torna bem perigoso
Tenho
no peito a nascente
que
consegue alimentar
este
rio diferente
que
não deságua no mar.
Me
conduz a correnteza
pra
margem oposta da vida.
Minha
única certeza:
Repouso
eterno e guarida.
E
ao me debater no rio,
penso
que vou me afogar.
A
morte acena pra mim
e
diz que vai me salvar.
Se
é a morte quem nos salva,
a
vida tem triste fim.
Melhor
seria que a morte
não
esperasse por mim.
A natureza e o Destino
Nasceu
pra ser prostituta:
-
na maneira de vestir.
Nos
gestos, nas atitudes.
No
escarlate das unhas.
Na
boca em fogo - carmim.
Na
sombra escura nos olhos.
Na
ponta agulha do salto.
No
rebolado forçado.
Na
sua voz afetada.
Na
paixão desenfreada.
No
respeito ao cafetão.
E
na alma estrangulada,
nos
vasos do coração.
Por
mais que tenha crescido,
nunca
passou de petiz.
Mas,
para ser prostituta,
teria
que ser mulher
e
a natureza não quis.
Para
enganar o destino,
é
travesti em Paris.
Última Esperança
Navego
no meu mar
de
uísque, desviando-me
dos
icebergs,
na
esperança vã
de
vê-los dissolvidos
na
angústia
de
minha saudade.
Parabéns poeta, tua poesia nos leva para "rios" profundos!
ResponderExcluirCymar, não sei se Gaivota é seu sobrenome verdadeiro. Não importa. O importante para mim é que continue sobrevoando minha literatura. Literatura essa que cuido todos os dias, regando para que continue verde e sempre atual. E afinal, o verde é a cor da esperança. Você foi a primeira pessoa a comentar meu trabalho neste blog. Eu jamais a esquecerei.
ResponderExcluirObrigado e volte sempre,
Angelo Romero
Apesar de a poesia estar presente em nossas vidas todos os dias, seja por meio de poemas, canções ou imagens, essa data é especial, pois nos oportuniza a explorar esse campo da literatura, que emociona e diverte.
ResponderExcluirMeu carinho de amiga e leitora-fã de suas poesias, Angelo Romero!
Salve, salve! Castro Alves!!! Um abraço enSOLarado!